Weekly Project: My Nature Journal

(scroll for the English version)
Há uns tempos prometi que partilharia os meus desenhos de biodiversidade. A verdade é que não os tenho coleccionados nem catalogados, nem tão pouco são feitos com grande esforço: são na maior parte das vezes meros apontamentos nos cadernos de trabalho, até nas bermas de livros ou em folhas soltas para experimentar materiais de pintura!
Como bióloga sempre me vi impulsionada para desenhar a biodiversidade em diversos contextos da minha vida profissional e pessoal. Há alguns anos tinha feito um workshop com o Fernando sobre ilustração científica e anos mais tarde acabei por me cruzar com ele como colega do curso de doutoramento: ele trabalhou a vertente da ilustração científica enquanto eu estudei o papel da comunicação da ciência na ligação do homem com a natureza. Nunca fiz aquele workshop com a pretensão de colocar em prática uma vida de ilustradora como a dele mas hoje, já com o meu trabalho feito, depois de alguns anos a pintar óleo e aguarela como autodidacta compreendi que a minha própria ligação com a natureza passa por muitas coisas, entre elas desenhar e pintar o que vejo.
Por isso, em Dezembro passado, decidi que ia organizar-me melhor neste sentido e criar um diário de natureza mais sério onde pudesse: colocar em prática as aguarelas, servir-me de algumas coisas que fui aprendendo sobre observação e ilustração, partilhar um pouco daquilo que sei sobre os diários da natureza e, acima de tudo, reconhecer e consolidar os meus momentos de ligação com ela. Não pretendo simplesmente fazer um desenho bonito nem, por outro lado, considerar isto ilustração como aquela que o Fernando faz! Apenas descontrair, motivar-me para a observação e usufruir do potencial de um bom diário da natureza.
Comprometi-me a fazer uma página (ou mais) por semana durante um ano e finalmente ganhei coragem para partilhar convosco o que já fiz! Se me seguirem no instagram, vão poder ver cada uma das páginas que já desenhei ao longo dos próximos dias, e depois, regularmente sempre que desenhar uma nova.
Revejo-me muito neste projecto pessoal e acho que chegarei ao fim com muita aprendizagem, boas memórias, novo conhecimento e atitudes mais positivas em relação à forma como me ligo à biodiversidade. Espero também poder partilhar convosco outros recursos relacionados com este pequeno projecto: dicas, livros, materiais, estratégias, etc.
Some time ago I promised that I would share my biodiversity drawings. The truth is that I have not collected or cataloged them, nor are they done with great effort: they are for the most part mere notes on my workbooks, even on the edges of books or on loose sheets where I try painting materials!
As a biologist I have always been motivated to draw biodiversity in diverse contexts of my professional and personal life. A few years ago I went a workshop with Fernando on scientific illustration and years later I ended up with him as a PhD fellow: he worked on scientific illustration as I studied the role of science communication in the connection between men and nature. I never did that workshop with the pretension of being an illustrator like he is, but today, with my work done, after a few years of painting oil and watercolor as a self-taught, I understood that my own connection with nature goes through many things, among them to draw and paint what I see.
So last December I decided that I would organize myself in this direction and create a more serious nature journal where I could: practice watercolors, use some of the things I learned about observation and illustration, share a little from what I know about nature journals and, above all, to recognize and consolidate my moments of connection with nature. I do not just want to make a beautiful drawing, nor do I consider this scientific illustration as the one Fernando does! Just relax, motivate myself to observe and enjoy the potential of a good nature journal practice.
I committed to doing a page (or more) a week for a year and finally I got the courage to share with you what I already did! If you follow me on Instagram, you will be able to see each of the pages that I have already drawn over the next few days, and then regularly whenever I draw a new one.
This project means a lot to me and I think I will end it with a lot of learning, good memories, new knowledge and more positive attitudes towards how I connect with biodiversity. I also hope to share with you other resources related to this small project: tips, books, materials, strategies, etc.
Continue Reading

Close to you shawl

(scroll for the English version)

Lembram-se desta lã que vos mostrei no Outono? Chegou o dia de vos mostrar o xaile que fiz com ela!
Comprei-a na Holanda quando ainda não era possível encontrar estes novelos por cá. É uma mistura de 75% lã merino e 25% poliamida tingida à mão pela sabedoria da Manos del Uruguay! As cores são muito intensas e nenhum novelo é igual ao outro.

Quanto ao modelo, entusiasmei-me com a ideia da Justyna Lorkowska ter um modelo de xaile chamado “Close to you” no qual se usa apenas um novelo desta lã e que me pareceu ser o projecto ideal para aplicar o meu novelo tão especial! É um modelo que vale muito a pena tricotar e que está muito bem construído e explicado, como já é habitual na Justyna Lorkowska. Não há modelo dela que eu não gostasse de tricotar.

O resultado final é, contudo, ligeiramente diferente do que o modelo anuncia. Mas tudo tem a ver com a lã utilizada! A verdade é que com a minha lã consegui introduzir mais algumas repetições do padrão o que me permitiria obter maior comprimento! Contudo, a lã Alegria, apesar de ser uma excelente substituta da lã originalmente utilizada pela Justyna para este modelo, é também um pouco mais elástica, fechando ligeiramente o ponto. Dessa forma, o aumento do número de repetições do padrão não teve grande impacto no comprimento do xaile, mesmo depois do blocking.
Mas a verdade é que o resultado é igualmente bonito e porque não se trata de um xaile muito largo, gosto especialmente de o utilizar como cachecol/lenço!

Aquilo que não deixou minimamente a desejar foram aquelas fabulosas cores! Aconselho vivamente a experimentarem esta lã: não só vão adorar usá-la como terão o maior prazer em tricotar todos os dias aquelas manchas de cor intensa, que tornarão os vossos serões bem coloridos.

Do you remember this yarn that I showed you in the autumn? The day has come to show you the shawl I made with it!
I bought it in the Netherlands when it was not yet possible to find these skeins here in Portugal. It is a blend of 75% merino wool and 25% polyamide dyed by hand by the wisdom of Manos del Uruguay! The colors are very intense and there are not two skeins equal to each other.

As for the model, I was thrilled with the idea of Justyna Lorkowska having a shawl, called “Close to you” in which uses only one skein of this yarn and that seemed to me to be the ideal project to apply my special Alegria yarn! This pattern is worth to knit and is very well elaborated and explained, as is usual in every pattern by Justyna Lorkowska. There’s no pattern by her that I did not like to knit.

The end result is, however, slightly different from what the pattern shows. But everything has to do with the yarn used! The truth is that with my yarn I was able to introduce a few more repetitions of the pattern which would allow me to get a longer shawl! However, Alegria, while being an excellent substitute for the yarn originally used by Justyna for this pattern, is also slightly more elastic, closing the stitch slightly. Thus, the increase in the number of repetitions of the pattern had no great impact on the length of the shawl, even after blocking.
But the truth is that the result is equally beautiful and because it is not a very wide shawl, I like to use it as a scarf!

The thing that did not disappointed even a bit were those fabulous colors! I strongly advise you to try this yarnl: you will not only love to wear it, but you will also be happy to knit those bright spots every day that will make your evenings very colorful.

Continue Reading

Tea: one remedy for all kinds of problems!

(scroll for the English version)

Há uns tempos ouvi falar de alguém que tem uma única solução para todos os problemas. Não propriamente para os problemas, mas para o reboliço de sentimentos com que estes nos deixam e que é, na maior parte das vezes, contraproducente. E essa solução é uma boa chávena de chá ou infusão. Os ingleses têm muito deste espírito: “Vamos por a chaleira ao lume!” Seja qual for a problemática que esteja à nossa frente…

Se pensarmos, são inúmeras as motivações para perder tempo com um chá aromático, sobretudo quando algo treme no nosso dia-a-dia!
Quando ficamos doentes com gripe, uma infusão de gengibre limão e mel é o melhor remédio. Quando o problema é a rouquidão, um punhado de perpétuas roxas na chaleira faz milagres. Quando a digestão é mal feita resolve-se com algumas sementes de funcho e anis-estrelado. Se o problema é adormecer, uma infusão de verbena, menta e tília é a combinação certeira. Quando estamos em baixo, nada como uma infusão de hortelã-pimenta acompanhada de uma bolacha de chocolate e avelã. Para acompanhar um amigo no lanche da tarde e conversar sobre tudo e mais alguma coisa, um chá preto com bergamota e um pingo de leite é a receita certa. Para para receber uma amiga em casa, para relaxar e por o tricô em dia (nas suas duas versões) um chá branco com arando deixa a fantasia feminina rolar. E o melhor chá a levar numa termos para beber a meio de uma caminhada na natureza durante o outono ou inverno é, sem dúvida, um chá verde!

O poder restaurador, reconfortante de uma chávena de infusão ou chá parece envolto em mitos mas é mundialmente conhecido e implementado desde que o homem se lembra. Não será por acaso, já que o chá é principalmente constituído por água. Ora a água gera em nós a sensação de algo conhecido, de conforto, limpeza, calma (beber exige algum relaxamento na respiração que nos obriga a parar) sendo que esta sensação não é apenas psicológica mas também f´fica porque efectivamente, uma dose de chá dilui e limpa-nos de componentes que nos fazem mal, que estão a mais ou no local errado. Depois há ainda as propriedades curativas das plantas em infusão que, consoante a conjugação, nos fazem sentir melhor. Por fim, o facto de se tomar quente (geralmente), um chá deixa-nos a alma e o corpo igualmente reconfortados e parece cooperar com o nosso termostato, permitindo-nos desviar a energia para outras funções, entre elas, gerir o stress, pensar melhor, limpar o organismo.

Mas ingerir um gole de chá à pressa está a milhas de ter o efeito desejado! É que nesta questão de beber chá, uma parte importante do seu efeito está associada ao ritual que ele envolve, como uma indulgência sem consumismo nem snacks dos quais nos arrependemos no espaço de 5 minutos. Escolher a nossa chávena favorita, escolher o chá apropriado para o momento, aprecia-lo e cheirá-lo enquanto o colocamos no infusor (não é por acaso que deixei de comprar chá em saquetas), esperar que a água entre em ebulição, aguardar 2-3 minutos para que a temperatura da água desça apenas ligeiramente para uma infusão perfeita e depois, aproveitar o aroma na cozinha enquanto esperamos 3-4 minutos para que o chá fique pronto… Depois escolher onde nos vamos recostar e demorar, para por fim beber devagar, pela força da temperatura, e pelo prazer do sabor. Tudo isto exige tempo, o tempo necessário para acalmar, respirar fundo, antes de avançar com atitudes, decisões e voltar à realidade deixando a vida passar ainda que apenas por alguns minutos.

Há quem pense que o slow living é um conceito teórico, que envolve mudanças drásticas na vida de toda a gente e que não se coaduna com o mundo actual. E a verdade é que podemos começar por dar uma oportunidade a uma chávena de chá, e à consciência activa do seu ritual. É a melhor maneira de encarar as festas que se aproximam!

 

Some time ago I have heard of someone who has a single solution to all problems. Not for the problems themselves, but for the hurricane of feelings with which they can leave us, and which are, in most cases, counterproductive. And this solution is a good cup of tea or infusion. In fact, the English people have much of this spirit: “Let’s put the kettle on!” Whatever problem is ahead of us …

If we think about it, there are countless reasons to have some time drinking an aromatic tea, especially when something shakes our daily life!
When we get sick, an infusion of lemon, ginger and honey is the best practice. When the problem is hoarseness, a handful of globe amaranths in the kettle works its miracles. When digestion is poorly done it can be tranquilized with some fennel and star anise seeds. If the problem is not falling asleep, an infusion of verbena, mint and lime tree is the best combination. When we’re down, nothing like an infusion of peppermint with a chocolate and hazelnut cookie. To meet a friend in the afternoon and talk about a little of everything, a black tea with bergamot (real grey) with a bit of milk is the right recipe. To receive a girlfriend at home to relax and knit, a white tea with a cranberry accentuates the feminine. And the best tea to take in thermic bottles for drinking during a nature walk in the fall or winter is, undoubtedly, a green tea!

The restful, comforting power of an infusion or tea cup seems wrapped in myths but is worldwide known and implemented since history remembers. It will not be by chance, since the tea is mainly constituted by water. Water generates sensation of something known, comfort, cleanliness, calm (drinking requires some breathing relaxation that forces us to stop) and this sensation is not only psychological but also physical because a dose of tea dilutes and cleans us of components that make us ill, that are over produced or concentrated or in the wrong place of our organism. Then there are, of course, the healing properties of infused plants that make us feel better. Finally, the fact that we use to have our tea warm, it leaves our soul and body equally comforted and cooperates with our thermostat, allowing our body to apply that energy on other functions, among them, manage stress, think better, clean the body.

But swallowing a cup of tea in a hurry is miles away of the desired effect! That is because the main effect of drinking tea is associated with the ritual that it involves, as an indulgence without consumerism or bad snacks of which we will regret 5 minutes later. Choosing our favorite cup, the right tea for the moment, enjoying it and smell it while we put it in the infuser (I stopped buying tea in sachets once and for all), waiting for the water to boil, waiting 2 -3 minutes so that the water temperature drops only slightly for a perfect infusion and then, enjoying the aroma in the kitchen while we wait 3-4 minutes for the tea to be ready… Then choosing where we are going to lie down and taking time to finally drink, slowly because of the temperature and the pleasure of taste. All of this requires time, the time it takes to calm down, to take a deep breath, before moving forward with attitudes, decisions, and getting back to reality, letting life goes bye even for just a few minutes.

There are those who think that the slow living is a theoretical concept that involves drastic changes in our the lives and that does not fit the world development. And the truth is that we can start slowly too… perhaps by giving a chance to a nice cup of tea. It is the best way to embrace the next holiday season!

Continue Reading

Pine cones: a good excuse

(scroll for the English version)

Os passeios de Outono são os meus favoritos!
Ah! Não há nada como o tempo quente para caminhar, mas o encanto da natureza no outono acrescenta aos passeios uma espécie de cumplicidade com o mundo.
Não me chegam os dedos das mãos para justificar um belo passeio entre jardins e pinhais quando as árvores, ao adormecer, cedem as folhas coloridas como uma criança que deixa cair o brinquedo que tem na mão quando o sono se aproxima… E essas mesmas folhas servem de cobertor quente aos cogumelos que, apesar do frio, começam a despertar, estremunhados, espreguiçando-se para a luz pardacenta. Há uma certa poesia nesta imagem! Tanta que por vezes apetece ficar quieta, ser invisível durante o tempo necessário para os ouvir brotar da terra. Mas como não se aprecia tudo sem se experimentar eu gosto de entrar no quadro, dar um bom passeio e sentir-me una com a natureza.

Todos os anos, antes das primeiras grandes chuvas vamos apanhar pinhas para acender a lareira no inverno. Apanhar pinhas, bom, não é o passatempo mais glamoroso, nem sequer parece ser digno de um post. Mas para esta tarefa eu embrenho-me mais profundamente nos pinhais, sem um destino concreto mas com alguma ambição de os ir descobrindo, a pouco e pouco, e ver o que aparece. E aparece de tudo: os líquenes que vestem as árvores com mais tons do que eu consigo imaginar, cogumelos que brotam como pequenos tesouros pousados, ao de leve, no chão, as aves que cantam para nós uma sinfonia ensaiada durante anos e anos, as folhas, os fetos e as agulhas de pinheiro que não permitem vislumbrar o solo porque se confundem com ele, as teias de aranha tecidas secretamente e que só se revelam pela mestria das gotas de orvalho…

Sim, há quem compre pinhas algures: bem secas e bem feitas, todas iguais, com calibre! E sim, elas não servem para um post, porque não há nenhum encanto escondido. Eu, que as apanho do chão num jogo de descobertas, trago pinhas maiores, mais pequenas, mais robustas e mais singelas. Umas bem abertas como flores maduras, outras como botões que só abrem completamente ao fogo da lareira, estalando aqui e além num autêntico fogo de artifício. Algumas vêm cobertas de filamentos verdes, castanhos, como xailes tricotados. De repente já não são só as pinhas para lareira que trago para casa, e o que trago, na sua maior parte, não se compra em lado nenhum. E isso é digno de se escrever…

Autumn tours are my favorites!
Ah! There is nothing like the warm weather to go for a walk, but the charm of nature during autumn adds complicity with the whole world.
There are countless reasons to justify a beautiful walk in a great garden or in the woods when the trees fall asleep, giving up their colored leaves like a child who drops his toy when the sleep arrives… And these leaves make the warm blanket for the mushrooms that, despite the cold, begin to wake up, quaking and stretching out into the brownish light. There’s some poetry in this picture! So many that sometimes it feels like being quiet, invisible, for enough time to hear them sprout from the earth. But since you do not appreciate everything without experiencing it, I like to get into the picture, take a good walk and feel one with nature.

Every year, before the first big rains, we go on a walk to pick pine cones to light the fireplace during the winter. Picking pine cones, well, it’s not the most glamorous thing, it does not even seem to be worthy of a written post. But for this task I immerse myself more deeply into the woods, without a determined destiny, but with some ambition to discover them, calmly, and see what happens. And the picture appears: the lichens that clothe the trees with more tones than I can imagine, the mushrooms that sprout like little treasures, carefully alighted on the ground, the birds singing for us a symphony rehearsed during many years, the leaves, ferns and pine needles that do not allow a glimpse of the soil because they mix with it, the cobwebs that were secretly woven and that are only revealed by the mastery of the dewdrops… Yes, some people buy pine cones somewhere: well dried and well made, all the same! And yes, they do not fit a written a post because there is no charm hidden on them. I pick them from the ground in a game of discoveries: I bring bigger, smaller, robust and delicate pine cones. Some are already open like ripe flowers, others, like buttons, will only open completely over fire, popping here and there like a genuine firework. Some come covered with green filaments, brown, like knitted shawls. Suddenly, it’s not just a bunch of pine cones that I bring for the fireplace, and what I bring, is not for sale. And this is worth to be written…

Continue Reading