Book review: Foxes Unreathed. A Story of Love and Loathing in Modern Britain.

(scroll for the English version)

 

Como já se foram apercebendo, tenho uma grande paixão por raposas! As raposas são num ser vivo que suscita emoções muito contrastantes entre os seres humanos. Ora, ao longo de quatro anos, eu estudei a forma como nos relacionamos directa e indirectamente com a biodiversidade e deparei-me com alguns seres vivos que provocam sensações muito fortes. É inequívoco que os artrópodes e os répteis são os senhores do medo! E que os mamíferos e aves são profundamente amados. Mas este padrão vai muito para além dos principias grupos taxonómicos: entre os artrópodes as borboletas são muito apreciadas, assim como as tartarugas entre os répteis; e entre mamíferos e aves, o lobo e o corvo geram apreensão entre muita gente. Apesar de não ter aprofundado especificamente esta relação, fui capaz de reconhecer que as raposas são um ser vivo que gera um grande espectro de sensações. Parece não haver um bom meio termo: há quem as ame, como eu, e quem as odeie! Há muitas razões, sobretudo históricas, para este tipo de percepções contrastantes em relação às raposas e, para mim foi muito emocionante descobrir que havia um bom livro sobre o assunto.

 

Foxes Unreathed é um livro que conta a história da nossa relação com as raposas ao longo da história e depois actualmente nas suas várias vertentes. O livro escrito por Lucy Jones é uma verdadeira declaração de amor e admiração por raposas e toca os assuntos mais curiosos: desde a forma como as crenças ancestrais, o folclore, as histórias e os meios de comunicação foram capazes de moldar a nossa imagem das raposas; passando pela questão da caça furtiva, controlada, cinegética e de como caçar não tem de estar necessariamente associado à negligência das espécies; e terminando pela tentativa, algo romântica, das aproximações ao homem numa era em que parecemos a cada dia mais distantes da biodiversidade da qual fazemos parte integrante.

 

É um livro fascinate e sobretudo muito inteligente. Fez-me reflectir e, no fim de todos os argumentos colocados em cima da mesa, amar ainda mais as raposas. Acima de tudo, mais do que tentar influenciar-nos de alguma forma, Foxes Unreathed coloca-nos sob a perspectiva de nós próprios como ser vivo que necessita ter tudo debaixo de controlo e se eleva de forma egocêntrica. Temos a fama de amar animais mas temos muita dificuldade em partilhar espaço com eles. Este livro devolve-nos a proximidade, ainda que apenas virtualmente. Mas pode ser um ponto de viragem na nossa relação com um mamífero que, apesar das dificuldades com que tem atravessado na sua proximidade com o homem, ainda sobrevive na nossa fauna autóctone e é símbolo e referência da biodiversidade Europeia.

 

As you might already know, I have passion for foxes! Foxes are a living being that arouses very contrasting emotions among humans. Well, over the course of four years, I have studied how we relate directly and indirectly to biodiversity and I have come across some living beings who provoke very strong reactions. It is unmistakable that arthropods and reptiles are the masters of fear! And that mammals and birds are deeply loved. But this pattern goes far beyond the main taxonomic groups: among arthropods the butterflies are much appreciated, as are the turtles among reptiles; and between mammals and birds, the wolf and the raven generate apprehension among many of us. Although I have not studied this case profoundly, I have been able to recognize that foxes are a living being that generates a wide spectrum of sensations. There’s not a middle ground: there are those who love them, as I do, and those who hate them! We can point many reasons, especially historical, for this kind of contrasting perceptions about foxes, and for me it was very exciting to find out that there was a good book on the subject.

 

Foxes Unreathed is a book that tells the story of our relationship with foxes throughout history and then today in its various subjects. The book written by Lucy Jones is a true declaration of love and admiration for foxes and touches on the most curious subjects: from the way in which the ancestral beliefs, folklore, stories and the means of communication were able to shape our image of foxes; including the hunting paradigm and the acceptation that hunting does not necessarily have to be associated with species neglect; and ending with the somewhat romantic attempt to approach mankind to foxes in an era in which we seem increasingly distant from the biodiversity of which we are an integral part.

 

It is a fascinating book and above all very intelligent. It made me think, and at the end of all the arguments put on the table, to love the foxes even more. Above all, rather than trying to influence us in any way, Foxes Unreathed puts us under the perspective of ourselves as a living being who needs to have everything under control and rises in an egocentric way. We have a reputation for loving animals but we have a hard time sharing space with them. This book brings us back to this closeness, though only virtually. But it may be a turning point in our relationship with a mammal that, despite the difficulties it has encountered in its proximity to man, still survives in our native fauna and is a symbol and reference of European biodiversity.
Continue Reading

Christmas Granola Recipe

(scroll for the English version)

Lembram-se da receita de Granola que costumo fazer regularmente? Acho-a tão deliciosa que resolvi criar uma versão de Natal e atribuir-lhe o honroso título de “Presente feito-à-mão oficial de Natal” do ano passado e que distribuí pela família e amigos.

A versão não é muito diferente da versão original sendo que apenas acrescentei uma pitada de canela, outra de açúcar baunilhado feito em casa, algumas avelãs, uma boa quantidade de pepitas de chocolate e substituí o óleo de girassol por óleo de coco. Uma desgraça, eu sei!

Aqui vai a minha receita:

400g flocos de aveia inteiros
100g de nozes picadas
50g de amêndoas picadas (com casca)
50g de avelã picada (com casca)
100g de sementes de abóbora
100g de sementes de girassol
50g de sementes de sésamo
1 pitada de canela
1 pitada de gengibre em pó
1 colher de acúcar baunilhado ou algumas gotas de essência de baunilha
1 colher de sopa de óleo de coco (ou 2 de óleo de girassol)
300g de mel
150g de pepitas de chocolate

A uma boa porção de flocos de aveia juntam-se nozes, amêndoas e avelãs (eu usei com pele) picadas em pedaços pequenos e juntar-lhes sementes de girassol, abóbora e sésamo. Salpicar a mistura com especiarias como a canela ou o gengibre. À parte, aquece-se o mel com um ou duas colheres de óleo sem sabor (óleo de girassol ou de coco) e o açúcar baunilhado (ou essência de baunilha) apenas até que se misturem, e depois envolver bem com na mistura de sementes.

Depois é só deixá-la no forno pré-aquecido aos 180ºC uns 20 minutos ou até que comece a ficar dourada. Infelizmente vão ter de se manter na cozinha porque a Granola tem que ser revirada de cinco em cinco minutos para não queimar! Por isso fiquem de olho. É mesmo fácil deixar queimar a Granola e terem de comer cereais de pacote outra vez…

Nesta versão de Natal, depois de arrefecer, ainda acrescentei 150g de pepitas de chocolate antes de distribuir a Granola por uns frascos bonitos. No verso da etiqueta acrescentei conselhos de utilização: “Acrescentar umas colheres de Granola a uma boa porção de iogurte natural e fruta da época”. Acho que ficou um belo presente!

 

Do you remember the Granola recipe that I usually do? I think that is my favorite! Is so delicious that I decided to create a Christmas version of it and give it the honorable title of “Christmas handmade gift of the year” last Christmas.

This version is not very different from the original version. I just added a pinch of cinnamon, another of homemade vanilla sugar, some hazelnuts, a good amount of chocolate chips and replaced the sunflower oil by coconut oil. What a move, I know!

Here’s my recipe:

400g whole oat flakes
100g chopped walnuts
50g chopped almonds
50g chopped hazelnuts
100g pumpkin seeds
100g of sunflower seeds
50g of sesame seeds
1 pinch of cinnamon
1 pinch of ginger powder
1 spoon of homemade vanilla sugar or a few drops of vanilla essence
1 tablespoon coconut oil (or 2 of sunflower oil)
300g of honey
150g of chocolate chips

In a big bowl join together the oat flakes, the walnuts, almonds and hazelnuts (I used the skin) chopped into small pieces and add the sunflower, pumpkin and sesame seeds. Sprinkle the mixture with spices such as cinnamon or ginger. Apart, heat the honey with one or two tablespoons of unflavored oil (sunflower or coconut oil) and the homemade vanilla sugar (or vanilla essence) only until they are mixed. Then add it to the seed mixture and mix well.

Then just leave it in the oven at 180 ° C for about 20 minutes or until it starts to golden. Unfortunately you will have to stay in the kitchen because the Granola has to be mixed every five minutes so it does not burn! So keep an eye on that because It’s really easy to let Granola burn and have to eat pack cereals again…!

In this Christmas version, after cooling down, I added 150g of chocolate chips to the Granola and distributed it by some beautiful jars. On the back of the label I added some advices: “Add a few tablespoons of Granola to a good portion of natural yoghurt and season fruit.” I think it turned out a beautiful gift!

Continue Reading

A few of my favourite things: hiking

Vattern Lake, Sweden

 

Vouzela, Portugal

 

Parteira de Fermentemos, Águeda, Portugal

 

Tivedens National Park, Sweden

 

Rio Paiva, Portugal

 

Ermelo, Portugal

 

Vale do Rio Bestança, Portugal

 

Lake District, England

 

Arouca, Portugal

Durante os últimos anos de trabalho estudei a relação entre o ser humano e a restante biodiversidade. Entre as teorias mais fascinantes destaca-se a “Biophilia hypothesis”. Esta é uma teoria científica descrita em 1984 pelo biólogo Edward O. Wilson que defende que nós, seres humanos, temos uma afinidade inata para o mundo natural e temos tendência para procurar conexões com a natureza e com outras formas de vida. A palavra Biophillia significa amor/amizade pela vida e trata-se de uma inclinação psicológica para tudo o que é vivo ou natural e que parece ser herdada ao longo das gerações, muito possivelmente na carga genética que carregamos connosco. É magico pensar que possuímos, em cada célula, um pequeno livro que conta a história da nossa evolução, que nos mostra o nosso lugar nesta grande árvore da vida e nos aparenta a todos os seres vivos do presente, do passado e do futuro. Estar com a natureza é estar em família, é estar em casa e por essa razão é natural sentirmos-nos acolhidos, protegidos, confortáveis e livres.

Nada me preenche mais do que ficar horas no meio da natureza onde não possa ver praticamente sinais de civilização. Uma das minhas coisas favoritas é fazer trilhos pedestres. Para terem uma noção, depois do meu casamento, adiamos uma grande viagem para uns meses mais tarde, alojamo-nos no interior do país e fomos fazer trilhos! Já fiz muitos em Portugal e, nos últimos anos, alguma vontade de conhecer os países mais intensamente tem possibilitado descobrir alguns trilhos longe de casa.
De qualquer das maneiras, dentro ou fora de Portugal, é uma forma de turismo muito particular. O sightseeing das grandes cidades e pontos turísticos pode ser entusiasmante mas, ao longo dos anos fui percebendo que não me preenchia na totalidade. Eu gosto de ver os grandes ex-libris de uma cidade ou de um país, mas também tenho gostos pessoais que me atraem para pequenos pormenores que quase ninguém escolhe ver. As minhas “creative tours” têm muito a ver com isso. Mas passear é mesmo assim: há uma parte de nós que quer ver o que outros já viram… e outra que quer ver o que só o nosso coração pede.

Fazer um trilho tem em si uma atitude de desapego, ainda que seja por um pequeno período de tempo. Sair de casa, deixar o carro e carregar numa mochila tudo o necessário para nos “protegermos do mundo” lá fora é, nos dias de hoje uma pequena vitória. Se isso decorrer no espaço desconhecido, selvagem, onde não há ninguém para esclarecer dúvidas, onde vale a voz da natureza que dos desabituados de reconhecer, em que são apenas alguns sinais pintados em árvores ou pedras que nos impedem de nos perdermos em zonas remotas onde por vezes não há rede de telemóvel… bom, pode ser uma pequena aventura! Pagam-se caro as experiências radicais. Delegamos facilmente a uma empresa de turismo preparar tudo, responsabilizar-se para que tudo corra impecavelmente bem e a quem podemos reclamar no caso de chover… E há, de facto, experiências que só são viáveis assim, de forma sistematizada. Contudo, muitas vezes deixamos de as fazer quando temos aventuras gratuitas, a alguns quilómetros de casa, adaptadas a diferentes capacidades e gostos! A vantagem de pegar na mochila e num amigo e fazer um trilho é que podemos escolher, como se a “casa” fosse (porque é) nossa. É escolher como queremos fazer as coisas, aquilo a que queremos dar valor, que esforço e tempo queremos despender. É saber respeitar, cuidar um espaço que é de todos e que sentimos orgulho de partilhar. É ter confiança de abrir um portão e atravessar uma propriedade porque alguém gentilmente nos cedeu essa liberdade. É ter um planeta inteiro para descobrir. E é também fazer de uma ou duas horas de caminhada, uma semana inteira de experiências: a sonhar, apreparar, a concretizar e no fim a assimilar e recordar. Tão promissor!

During the last years I studied the relation between the humans and the rest of biodiversity. Among the most fascinating theories, “Biophilia hypothesis” stood out. This is a scientific theory described in 1984 by the biologist Edward O. Wilson who argues that we humans have an innate affinity for the natural world and tend to seek connections with nature and other life forms. The word Biophillia means love/friendship for life, it’s a psychological inclination towards everything that is alive or natural and that seems to be inherited throughout generations, quite possibly through the genetic information we carry with us. It is magical to think that we all have in each cell a little book that tells the story of our evolution, which shows us our place in this big tree of life and get us close to at all living things of the present, the past and the future. To be in nature is to be in family, to be at home and for that reason it is very natural for us to feel welcomed, protected, comfortable and free.

Nothing fills me more than spending hours in the midst of nature where I can see, virtually, no signs of civilization. One of my favorite things is hiking. For you to understand how I feel about it, after my marriage, we delayed this huge trip for a few months, we went to the interior of the country and went to hike! I’ve done a lot of hiking trails in Portugal and, in recent years, this desire to know other countries more intensely has made it possible to discover some trails away from home.
In any case, inside or outside Portugal, it is a very particular way of be a tourist. The sightseeing of the big cities and tourism sights can be exciting but, over the years, I have realized that it did not fill me entirely. Of course I like to see the great ex-libris of a city or a country, but I also have personal tastes that attract me to small details that almost nobody chooses to see. My “creative tours” have a lot to do with it. Traveling is all about this: there is a part of ourselves that wants to see what others have seen… and another that wants to see what only our heart asks for.

Hiking a trail involves some detachment, even if it is for a short period of time. These days, leaving home, leaving our car on the road and carrying in our backpack all that is necessary to “protect ourselves from the world” is a small victory. If this happens to occur in the unknown wild space, where there is no one to clarify doubts, where the voice of nature is the only voice you hear (and that we are getting unable to recognize), in which we have to trust in just some signs painted on trees or stones that prevent us from getting lost in remote areas, where sometimes there is no phone coverage… well, we might be asking for a little adventure! Radical experiences are costly. We easily delegate to a tour company to prepare everything, to make sure that everything runs smoothly and to whom we can complain if it rains… And there are, in fact, experiences that are only viable this way, in a systematized way. However, we often stop doing them even when we have free adventures, a few miles from home, adapted to different capacities and tastes! The advantage of grabbing a backpack and a friend and hike a trail is that we can choose, as if the “house” was (because it is) ours. It is choosing how we want to do things, what to value, what effort and time we want to spend. It is knowing how to respect, care for a space that belongs to everyone and that we are proud to share. It’s to have confidence while opening a gate and crossing a property because someone kindly gave us that freedom. It’s having a whole planet to discover. And it’s also to transform an hour or two of walking in a whole week of experiences: to dream, to prepare, to do it and, in the end, assimilate and remember. How bright!

Continue Reading

A few of my favorite things: children books

(scroll for the English version)

Já estou cansada de ouvir a frase “tens de começar a comprar livros pra a tua idade!”
É verdade, eu tenho uma paixão por livros infantis.

Se há paixões para as quais nós não conseguimos descortinar razões, neste caso eu consigo enumerar pelo menos três razões para gostar tanto de livros infantis. Em primeiro lugar, eles fazem parte das minhas memórias de infância. Os meus pais liam-me histórias antes de adormecer, eu pedia as mesmas constantemente (como é frequente nas crianças), sabia algumas histórias e poemas de cor e tinha dois ou três livros que a minha memória guardou como tesouros e que ainda hoje habitam numa das mais importantes prateleiras da minha estante.
A segunda razão é porque a minha mãe é professora de Língua Portuguesa e acumulou em casa uma estante inteira de histórias para os mais pequenos. A estante é demasiado grande para se dever única e simplesmente à sua profissão ou ao facto de ter tido três filhos que, por sua vez também iniciaram as suas colecções. Creio porém que ela fica feliz de poder justificá-la dessa maneira às pessoas crescidas embora eu saiba que a principal razão é que muitos destes livros são autênticas obras literárias, autênticas obras de arte. Para mim é uma justificação mais que legítima e que eu partilho inteiramente.
A minha última razão deriva necessariamente das duas anteriores. Durante o doutoramento percebi o quanto os livros infantis podem ser importantes ferramentas de comunicação do tema da biodiversidade já que estão repletos de seres vivos. Motivada por este pensamento, fiz um grande estudo sobre a forma como a biodiversdade está presente nos livros para a infância. É um estudo complicado mas com um princípio e uma conclusão muito simples.
O poder dos livros infantis sobre mim foi, a partir desse momento, arrebatador. Não consigo entrar numa livraria sem passar pela área infantil, já perdi a vergonha de só requisitar livros infantis na biblioteca e dizer que são para mim, de ser a única adulta nos sofás dedicados aos miúdos e já me vi aconselhar com sucesso alguns adultos desorientados à procura de um bom presente. Até já ofereci livros infantis a outros adultos (sim, para além da minha mãe)…

Isto pode parecer não ter nada a ver com o tema do “fazer à mão”, mas faz parte, certamente, do tema “viver devagar” que lhe está imediatamente associado. Senão, ora vejam:
Face aos desenhos animados tão intensos e cheios de efeitos extraordinários, é fácil desvalorizar o poder de um bom livro infantil. Contudo há uma coisa que nenhum desenho animado permite: ter poder sobre o ritmo. Um livro lê-se mais depressa ou mais devagar, à medida do leitor. Podemos dispensar horas num só poema e há quem domine a técnica vulgarmente denominada “ler na diagonal” e captar o que para si é o bastante num tempo recorde. No caso dos livros infantis esta questão ainda se torna mais evidente. A combinação das imagens com o texto faz com que haja vários níveis de profundidade em cada página nos quais o leitor se pode perder e imaginar. E não desvalorizem a mente de uma criança: há palavras que de preferência não são ditas, há imagens que contam à maneira de cada um dando-nos o tempo e o espaço necessário para imaginar. Não há nada melhor para apaziguar, fortalecer perspectivas, aumentar a auto estima do que ler e explorar ao nosso próprio ritmo. E isso aprende-se de pequenino, com um bom livro na mão.
Mais, quando é que perdemos o hábito de ir à biblioteca e lá perder um bom pedaço só a explorar as prateleiras ainda que seja lado a lado com um miúdo de 8 anos? Porque razão acham que nas bibliotecas infantis há um tapete no chão com almofadas? É obviamente para todas as alturas se poderem sentar (ou deitar) e demorar! Quando é que viver devagar e explorar saiu de moda?

Não consigo pensar que este será o único post em que falo de livros infantis pelo que entretanto prometo actualizar e recomendar as minhas novas aquisições. Por hoje queria falar-vos de sete livros com mensagens poderosas para pequenos e grandes.

I’m tired of hearing: “you have to start buying books for your age!”
It’s true, I have a passion for children’s books.

If there are passions for which we can not understand the reasons, in this case I can enumerate at least three reasons to love children’s books so much. First of all, they are part of my childhood memories. My parents read me stories before sleep, I asked for the same stories constantly (as children do often), I knew some stories and poems by heart, and I had two or three books that my memory kept as treasures and that still inhabit on one of my most important shelves.
The second reason is because my mom is a Portuguese Language teacher and she has accumulated an entire bookshelf of stories for the little ones. The bookshelf is too large to be solely due to her profession or to the fact that she had three children who also started their collections. I believe, however, that she is happy justify it in this way to the grownups, although I know the main reason is that many of these books are authentic literary works of art. For me this is a more than legitimate justification and that I fully subscribe.
My last reason necessarily derives from the previous two. During my PhD I realized how children’s books can be important tools for communicating the theme of biodiversity since they are full of living beings. Motivated by this thought, I did a large study on how biodiversity is present in books for children. It is a complicated study but with a very simple principle and conclusions.
The power of children’s books over me was, from that moment on, trully overwhelming. I can’t enter a bookstore without visiting the children’s area, I’m not embarrassed any more by borrowing children’s books in the library and say that they are for me or to be the only adult in the kid’s sofas at the bookstores. I already successfully advised some disoriented adults looking for a good gift and I even offered children’s books to other adults (yes, besides my mom)…

This may seem to have nothing to do with the “handmade” theme, but it is certainly part of the “slow living” theme that is immediately associated with it.
Compared with cartoons that are so intense and full of extraordinary effects, it is easy to devalue the power of a good children’s book. However there is one thing that no cartoon allows: to have power over the rhythm. A book can be read as fast or slow as we want. We can spend hours in a single poem and there are those people who master the technique of capturing a book content in a record time. In the case of children’s books this is even more obvious. Combining the images with the text means that there are several levels of depth on each page for the reader to spend time, get lost and imagine. And please, do not undervalue a child’s mind: there are words that don’t have to be written, there are images that tell the way by themselves, giving us the necessary time and space to imagine. There is nothing better to appease, strengthen perspectives, increase self-esteem than read and explore at our own pace. And this is learned as early as you can imagine since you have a good book in your hand.
Plus, when did we lost the habit of going to the library and spend a good time just exploring the shelves, even if it’s side by side with an 8-year-old kid? Why do you think that in children’s libraries there is a rug on the floor with cushions? It is obviously for all heights to sit (or lie down) and delay! When did slow living and exploring went out of style?

I can not think that this will be the only post in which I speak of children’s books so I promise to update and recommend my new purchases sometimes. Today I wanted to tell you about seven books with powerful messages for young and old “children”.

O primeiro foi-me oferecido pela respectiva editora aquando do estudo que referi acima. Chama-se “Espelho”, escrito pela autora Susy Lee e é um album, ou seja, um livro no qual a imagem prepondera sobre o texto. Neste caso não há de todo texto mas suas poderosas ilustrações criam uma história de descoberta. Tenho-lhe especial carinho porque me revejo um pouco e, mais tarde, ofereci-o a um amigo que me dizia que por vezes é preciso fazermos umas boas caretas ao espelho para entrar nele e conhecermo-nos no íntimo da nossa sensibilidade e criatividade.

The first one was offered to me by the publisher during the study I mentioned above. It is called “Mirror“, written by Susy Lee and is a silent picture book, a book in which the image predominates over the text.In this case there is not text at all but its powerful illustrations create a story of discovery. I have a special affection for this one because I see myself on that story and later I offered it to a friend who once told me that sometimes we must make faces at the mirror to enter it and to know ourselves deeply, our sensitivity and creativity.

 

Outro livro inesquecível para mim chama-se “Selma” autora Jutta Bauer. É um livro bem pequeno mas tem dentro de si uma das maiores lições sobre o que é a felicidade, o significado do sucesso e da importância de uma vida preenchida… do que amamos fazer, seja isso o que for aos olhos dos outros.

Another memorable book for me is “Selma” by Jutta Bauer. It is the smallest book but it has one of the greatest lessons about what happiness is, the meaning of success and the importance of a fulfilled life … with what we love to do, whatever that is and whatever it may seems to others.

 

Tenho porém uma relação agridoce com um livro, mais uma vez um album, chamado “Aquário” de Cynthia Alonso. E foi porque me deixou esta sensação tão marcante que o trouxe para a minha prateleira. Por vezes temos de resolver-nos e desafiar-nos. Confesso que, até hoje ainda não fiz as pazes com ele: deixa-me algo triste mas reconheço-lhe o encanto. O livro conta sobre uma amizade entre uma menina e um peixe. Apesar de se divertirem muito pertencem a mundos bem diferentes…

I have, however, a bittersweet relationship with a book called “Aquário” by Cynthia Alonso, and it was because it left me this striking feeling that I brought it to my shelf. We sometimes have to solve ourselves and challenge ourselves. I confess that I still haven’t made up with him: it makes me a little sad but I recognize its magic.This book tells about a friendship between a girl and a fish.Though they have a lot of fun together, they belong to very different worlds…

 

Como bióloga, não pude de me deixar impressionar pelo poder do livro “A Toupeira que Queria Saber quem lhe Fizera Aquilo na Cabeça” de Werner Holzwarth. O livro conta a história de uma toupeira que aborda uma série de animais, determinada em descobrir quem foi o palerma que lhe fizera “aquilo” em cima da cabeça! Não sei se a história foi pensada com esse objectivo mas, consciente ou inconscientemente, mostra como através das características dos vestígios deixados pelos animais os biólogos conseguem estudar a presença e distribuição de espécies mesmo quando é difícil observá-los.

As a biologist, I could not help myself to not be impressed by the power of the book “The Story of the Little Mole Who Knew it Was None of His Business” by Werner Holzwarth. The book tells the story of a mole approaching several animals determined to find out who was the fool who did “that” over her head. I don’t not know if the story was intended for this purpose but, consciously or unconsciously, it shows how biologists can study the presence and distribution of species through the traits left by animals when it is very difficult to observe them.

 

Este Alce é Meu” de Oliver Jeffers é um livro que nos devolve à nossa pequenez. Temos uma tendência para achar que somos donos de tudo. Mais, que somos donos de alguém e que podemos mudar-lhes ou afinar-lhes os hábitos, os gostos, as relações… Há um certo egocentrismo, um poder ilusório, como uma fantasia de carnaval, que não é mais que isso, um disfarce, e que nos magoa mais cedo ou mais tarde. Felizmente, o livre arbítrio e a individualidade genuína é inevitável e, para quem tiver essa abertura, é das coisas mais belas que há. O ideal é que, em vez de possuir, nos deixemos cativar.

This Moose Belongs to Me” by Oliver Jeffers is a book that bring us to our place. We have a tendency to think we own everything, more, that we own someone and that we can change or adjust their habits, they tastes, their relationships… There is a some kind of egocentrism, an illusory power, like a carnival fantasy, which is nothing more than this, a disguise, and that hurts us sooner or later. Fortunately, free will and genuine individuality is inevitable, and for those who have this openness it is one of the most beautiful things there is. Ideally, instead of possessing, let us be captivated.

 

Foi recentemente que conheci “Uma Aventura debaixo da Terra” de Mac Barnett. É sobre uma dupla de amigos que quase, quase a encontrar um tesouro aventura-se noutra direcção. É um pouco sobre o acaso, o destino mas também de como a mente leve e desprendida nos permite viver verdadeiras aventuras e encontrar os melhores tesouros.

It was recently that I met Mac Barnett’s “Sam and Dave Dig a Hole”. It’s about a pair of friends that almost, almost found a treasure but, every time they were approaching it, they venture in another direction. It is a little about chance and fate but also how a light and detached mind allows us to live true adventures and find the best treasures.

 

Por fim queria falar-vos de “Vazio” de Catarina Sobral. Mais uma vez é um album e sem vergonha digo-vos que me trouxe as lágrimas aos olhos. Quantas vezes sentimos que somos diferentes e que não há lugar para nós? Sentimos-nos vazios. Tudo nos preenche mas apenas temporariamente… Só quando encontramos uma alma igual, seja ela no amor ou nas amizades, é que ficamos cheios!

E sim, podia prolongar-me indefinidamente. Acho que amanhã vou à biblioteca, alguém alinha?

The last but not the least, I wanted to share “Vazio” by Catarina Sobral, a portuguese author. Once again it’s a silent picture book (so you don’t have to worry about the Portuguese language!) and I tell you that it brought tears to my eyes. How often do we feel that we are different and that there is no place for us? We feel empty. Everything that fills us seems only temporary… It’s when we find an equal soul, in love or in friendship, that we feel full!

And yes, I could go on indefinitely. I think I’m going to the library tomorrow, who’s in?

Continue Reading