Autumn

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O outono vai ser sempre um momento de viragem para mim. Não sei se fui eu que criei esta sensação de recomeço, ganha à custa de tantos anos lectivos a iniciarem em setembro durante os tempos de estudante, ou se são as mudanças no ambiente, no clima, nos hábitos que geram uma necessidade de ajuste. A verdade é que faz algum sentido para mim criar metas, iniciar projectos no outono.
Há uma certa calma nesta época. Os fervores do verão cessam, a mente relaxa, solicito com mais facilidade a concentração e, tal como uma criança que dorme melhor depois de uma tarde de brincadeira, no Outono é mais fácil parar, concentrar-me e recomeçar.

Durante toda a história existiram crenças sobre o significado do equinócio de outono que estão recorrentemente associadas ao equilíbrio, à vigilância, à colheita. No equinócio os dias são tão grandes como as noites e por isso torna-se mais simples readquirir rotinas, equilibrar os hábitos com a disponibilidade da luz, gerar um equilíbrio mais saudável nas horas de sono.
Depois, as noites ficam progressivamente maiores até à chegada do Inverno, um tempo algo sombrio e desconcertante para muitos de nós. Por isso é muito natural que, durante o outono, seja necessário um espaço de preparação, um certo isolamento para auto-análise.

Para mim, o outono é um período muito mais propício a definir objectivos e introduzir alterações na minha forma de viver do que, por exemplo, na passagem de ano já que o ambiente de inverno é menos favorável à aquisição de novos hábitos! É mais ou menos consensual que qualquer momento é bom para recomeçar, não é necessário esperar pelo momento ideal para abraçar desafios. Mas temos de ser amigos de nós mesmos e, sempre que possível, tentar escolher momentos que facilitem a mudança, que cooperem com o seu sucesso, em vez de a condenar a competir com outras dificuldades e criar frustrações no nosso interior.

O outono é ainda o tempo das colheitas. Colher os frutos do verão e armazená-los para o inverno, quer seja secando, congelando ou conservando, é uma atitude vigilante comum a um grande número de seres vivos e o homem não é excepção. Muitos destes hábitos tinham o objectivo de rechear as despensas com alimentos, preparar as casas para receber o frio e as chuvas, criar um espaço acolhedor para muitos serões passados em casa em frente à luz trémula das lareiras. Hoje, as facilidades criadas pela sociedade moderna podem ter distorcido um pouco estas necessidades mantendo disponível para nós qualquer produto, durante todo o ano, mascarando quase completamente os ritmos naturais.
Contudo, por mais que tenhamos sempre disponíveis as facilidades do verão, os ambientes aquecidos dos centros comerciais, por mais rotineiro que o nosso dia-a-dia possa parecer e a chuva e o frio nos pareçam apenas um bom motivo para mudar o nosso guarda roupa, a natureza é fiel e continua a indicar-nos o caminho a seguir, a providenciar ambientes de mudança, gerar quadros completamente novos, acessíveis a todos para que a vida seja sempre novidade e aprendizagem. Abraçar estes sinais, deixarmo-nos escoltar por eles e tê-los como colaboradores nos nossos projectos sazonais torna o caminho fluido, com declives mais leves e a nós mais atentos, mais próximos da natureza e dos nossos instintos.

Autumn will always be a turning point for me. I don’t know if I created this feeling of restarting because of many school years starting in September during my student days, or if the changes in the environment, the climate, the habits generate a need for adjustment. The truth is that it makes some sense to me to create goals and start projects during autumn.
There is a certain peace during this season. The summer fervor ceases, my mind relaxes, I request concentration more easily and, as a child that sleeps better after a fun afternoon, during autumn is easier to stop, concentrate and start over.

Throughout history there were beliefs about the meaning of the autumn equinox that are recurrently associated with balance, vigilance, harvesting. Around the equinox, the daytime is as big as nighttime and so it becomes simpler to reacquire routines, reorganize habits regarding the light availability, create a healthier balance in our sleeping time.
Then the nights get progressively larger until the arrival of winter, a dark and confusing time of the year for many of us. So it seems normal that, during autumn, we seek for preparation time and space, some isolation for self-analysis.

For me, the fall is a more suitable period to set goals and make changes in my way of living than, for example, the new year’s eve! The winter environment is much less inviting to acquiring new habits. It is more or less agreed that any time is good to restart, you don’t need to wait for the ideal moment to embrace challenges. But we have to be kind to ourselves and, whenever possible, try to choose moments that facilitate change, that cooperate with success, rather than create frustration and condemn our goals to a hard competition with other difficulties.

Autumn is also the time for harvest. Harvest the summer products and store them for the winter, whether drying, freezing or preserving, is a common vigilant attitude to a large number of living beings among which man is no exception. In ancient times, many of these habits aimed to fill our pantries with food, to prepare our homes to receive the cold and rain, to create a cozy space for many evenings spent at home in front of the flickering light of the fireplace. Today, the facilities created by our busy society may have distorted these needs a bit, keeping available to us any product throughout the year and completely masking the natural rhythms.
However, despite having all the summer facilities always available, the heated environments of shopping centers, an unbreakable routine in our day-to-day, despite it might seem that the rain and the cold are just a good excuse to introduce changes in our wardrobe, nature is faithful and continues to show us the way forward, providing changing environments, generating completely new pictures so that life seems always new and exciting! Embracing these signs, let them escort us and have them as collaborators in our seasonal projects, makes the path more fluid, with lighter slopes and makes us more attentive, closer to nature and to our instincts.

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