The treasures you can find on a walk from the river Neiva to the Atlantic Sea

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Na estação passada aventurei-me em trilhos e passeios especialmente escolhidos para o tempo de Inverno como estes e ainda este. Apesar da primavera já ter começado, o tempo por aqui ora aquece ora arrefece e, em alguns locais, a primavera ainda aparece tímida! Mas isso não é desculpa para deixar os passeios de fora. Há coisas maravilhosas para descobrir no início da primavera. E, quem sabe, podemos convidadá-la a aparecer com um bom passeio e um pic nic ao sol!

Ora, há uns dias, apesar das temperaturas junto ao mar ainda não estarem a favor, aventurei-me com amigos novamente na nossa costa, evitando ao máximo as zonas urbanizadas. É incrível perceber como, apesar do nosso litoral ser alvo de assédio constante por urbanização intensa, há ainda locais escondidos onde impera um pouco da sucessão ecológica! Aí há muito para aprender, há muito para pesquisar e, se quisermos despender um pouco do nosso tempo, muitos tesouros para descobrir…
O passeio que fizemos foi no Parque Natural do Litoral Norte, junto à Foz do Neiva. No último ano tive a oportunidade de visitar a zona, em épocas completamente diferentes. A primeira vez, no Verão, não havia um passeio determinado, mas, numa visita a amigos, acabei por descobrir a existência de um trilho que decidimos percorrer há uns dias atrás.

A foz de um rio, e o seu estuário, é um local muito interessante do ponto de vista ecológico. Há muita biodiversidade, exclusiva destes habitats, e a transição ecológica entre o rio e o mar é algo de verdadeiramente belo que mostra que nada no mundo é completamente estanque. E é sobretudo as zonas de transição que nos surpreendem mais pela sua peculiaridade e unicidade. A Foz do Neiva não é excepção! Desde os seixos brancos rolados e xistos ao longo da costa que protegem as zonas agrícolas que ficam para lá das dunas, até à mata pontuada por pinheiros mansos e caniçal o habitat muda radicalmente debaixo dos nossos olhos. Depois, no rio é possível ver uma série de peixes como a truta ou a boga e aguardar pacientemente pela presença de uma lontra… No estuário imperam as aves como garças, gaivotas e guarda-rios. Nas dunas, os Cordeirinhos-da-praia e o lírio-das-areias prendem, aqui e ali, restos de ovos de raia, esqueletos de caranguejo e na areia da praia, as conchas de bivalves e lapas entrelaçam-se em pedaços de algas de todas as cores!

É nesta altura que as praias estão mais selvagens, após quase um ano sem perturbação humana intensa. Estão lavadas do nosso impacto e revelam os tesouros mais incríveis! Fiquei com uma grande vontade de aguardar a maré baixa e aventurar-me a observar as poças de maré…

During the last season I ventured into hiking on trails specially chosen for the winter time like these and also this. Although spring has already begun, the weather here is not quite stable: it warms up and cools down all the time. And in some places, spring still appears very timidly! But that’s no excuse to leave hiding for later. There are wonderful things to discover in the early spring. And who knows, we can invite her to come with a nice walk and a picnic under the sun!

Well, a few days ago, although the temperatures by the sea are still not warm around here, I ventured with some friends on our coast, avoiding urbanized areas. It is incredible to see how, although our coastline is constantly harassed by intense urbanization, there are still hidden places where there is a little bit of ecological succession! There is a lot to learn on those places, there is a lot to search for and, if we want to spend some of our time, many treasures to discover…
The trail we followed was in the Parque Natural do Litoral Norte, next to Neiva river estuary (Foz do Neiva). In the last year I had the opportunity to visit the area, in two completely different times. The first time was in the summer, and there was not a specific trail to follow. We just visited some friends, and I add discovered the existence of a trail that we decided to follow a few days ago.

The the estuary of a river, is a very interesting place from an ecological point of view. There is a lot of biodiversity, exclusive to these habitats, and the ecological transition between the river and the sea is truly beautiful, which shows that nothing in the world is completely watertight. And generally, the zones of transition are the ones that surprise us the most by its peculiarity and uniqueness. The Estuary from Neiva is no exception! From the rolled white pebbles and shales along the coast that protect the agricultural areas beyond the dunes, to the forest punctuated by stone pines, the habitat changes radically just under our eyes. Then, on the river, you can see a several fish such as trout or boga and wait patiently for the presence of an otter… In the estuary, birds such as herons, seagulls and rangers prevail. In the dunes, the unique flora traps, here and there, the remaining of ray eggs, crab skeletons and in the sand of the beach, the shells of bivalves and limpets intertwine in pieces of algae of all colors!

It is at this time that the beaches are wilder, after almost a year without intense human disturbance. They are washed from our impact and reveal the most incredible treasures! I was very tempted to wait for the low tide and venture to observe the tide pools… may be next time.
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Cinammon buns, Kanelbulle , Zimtschnecke… and a happy Easter!

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Há mais ou menos um ano estive na Suécia e dei de caras com um novo conceito de refeição mais ou menos equivalente ao nosso “ir tomar um café”: o Fika. Fika pode ser um nome ou um verbo. Fazer fika é contudo um pouco diferente da nossa pausa para café. É quase uma pausa instituída que inclui uma bebida e doces. Aliás, no fika não se pode dizer que o café venha acompanhado de um doce… é mais o contrário, são os doces que são os reis do fika e que são acompanhados por uma bebida, em geral café. Pode acontecer a vários momentos do dia mas é sobretudo a meio da tarde que os suecos param o que estão a fazer e se juntam para o fika na rua, nos locais de trabalho, etc. E as expectativas são altas: os doces podem ser bastante requintados e constituir uma fatia de tarde, pequenos quadradinhos de pastelaria francesa com cremes e fruta mas o mais tradicional é comerem-se os famosos rolos de canela, os “Kanelbullar” ou mais conhecidos por “cinnamon buns” ou “Zimtschnecke” na Alemanha.

 

Ora, com a Páscoa à porta e ainda com a Primavera tão tímida, achei que um Kanelbulle ia muito bem com o chá da tarde e resolvi fazer um tabuleiro para matar as saudades dos países nórdicos e da europa central… Quero muito acertar a minha própria receita mas, para já, foi esta a receita vencedora!
Aproveito para desejar a todos uma Páscoa muito feliz!

 

About a year ago I was in Sweden and I found a new concept of meal which is more or less equivalent to our “go for a coffee”. It’s called “Fika”. Fika can be other a noun or a verb. Making fika is, however, a bit different from our coffee break. It’s almost an instituted break that includes a drink and sweets. In fact, regarding fika, one can’t say that the coffee comes accompanied by a sweet… it is the opposite, it is the sweet that is the fika “star” that are accompanied by a drink, usually coffee. It can happen at various times of the day but it is mainly in mid-afternoon that the Swedes stop what they are doing and join to fika on the street, in the workplace, etc. And the expectations are high: the sweets can be quite exquisite like a slice of tart, small squares of french pastry with cream and fruit, but the most traditional is to eat the famous “Kanelbullar”,  better known by “cinnamon buns” or “Zimtschnecke” in Germany.

 

Well, with Easter just around the corner and spring still so shy around here, I thought that a Kanelbulle might go very well with the afternoon tea and I decided to make a tray to recall my visits to the nordic countries and central Europe… I want to fix my own recipe but, for now, I am just following this one!
Happy Easter to you all!
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Weekly Project: My Nature Journal

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Há uns tempos prometi que partilharia os meus desenhos de biodiversidade. A verdade é que não os tenho coleccionados nem catalogados, nem tão pouco são feitos com grande esforço: são na maior parte das vezes meros apontamentos nos cadernos de trabalho, até nas bermas de livros ou em folhas soltas para experimentar materiais de pintura!
Como bióloga sempre me vi impulsionada para desenhar a biodiversidade em diversos contextos da minha vida profissional e pessoal. Há alguns anos tinha feito um workshop com o Fernando sobre ilustração científica e anos mais tarde acabei por me cruzar com ele como colega do curso de doutoramento: ele trabalhou a vertente da ilustração científica enquanto eu estudei o papel da comunicação da ciência na ligação do homem com a natureza. Nunca fiz aquele workshop com a pretensão de colocar em prática uma vida de ilustradora como a dele mas hoje, já com o meu trabalho feito, depois de alguns anos a pintar óleo e aguarela como autodidacta compreendi que a minha própria ligação com a natureza passa por muitas coisas, entre elas desenhar e pintar o que vejo.
Por isso, em Dezembro passado, decidi que ia organizar-me melhor neste sentido e criar um diário de natureza mais sério onde pudesse: colocar em prática as aguarelas, servir-me de algumas coisas que fui aprendendo sobre observação e ilustração, partilhar um pouco daquilo que sei sobre os diários da natureza e, acima de tudo, reconhecer e consolidar os meus momentos de ligação com ela. Não pretendo simplesmente fazer um desenho bonito nem, por outro lado, considerar isto ilustração como aquela que o Fernando faz! Apenas descontrair, motivar-me para a observação e usufruir do potencial de um bom diário da natureza.
Comprometi-me a fazer uma página (ou mais) por semana durante um ano e finalmente ganhei coragem para partilhar convosco o que já fiz! Se me seguirem no instagram, vão poder ver cada uma das páginas que já desenhei ao longo dos próximos dias, e depois, regularmente sempre que desenhar uma nova.
Revejo-me muito neste projecto pessoal e acho que chegarei ao fim com muita aprendizagem, boas memórias, novo conhecimento e atitudes mais positivas em relação à forma como me ligo à biodiversidade. Espero também poder partilhar convosco outros recursos relacionados com este pequeno projecto: dicas, livros, materiais, estratégias, etc.
Some time ago I promised that I would share my biodiversity drawings. The truth is that I have not collected or cataloged them, nor are they done with great effort: they are for the most part mere notes on my workbooks, even on the edges of books or on loose sheets where I try painting materials!
As a biologist I have always been motivated to draw biodiversity in diverse contexts of my professional and personal life. A few years ago I went a workshop with Fernando on scientific illustration and years later I ended up with him as a PhD fellow: he worked on scientific illustration as I studied the role of science communication in the connection between men and nature. I never did that workshop with the pretension of being an illustrator like he is, but today, with my work done, after a few years of painting oil and watercolor as a self-taught, I understood that my own connection with nature goes through many things, among them to draw and paint what I see.
So last December I decided that I would organize myself in this direction and create a more serious nature journal where I could: practice watercolors, use some of the things I learned about observation and illustration, share a little from what I know about nature journals and, above all, to recognize and consolidate my moments of connection with nature. I do not just want to make a beautiful drawing, nor do I consider this scientific illustration as the one Fernando does! Just relax, motivate myself to observe and enjoy the potential of a good nature journal practice.
I committed to doing a page (or more) a week for a year and finally I got the courage to share with you what I already did! If you follow me on Instagram, you will be able to see each of the pages that I have already drawn over the next few days, and then regularly whenever I draw a new one.
This project means a lot to me and I think I will end it with a lot of learning, good memories, new knowledge and more positive attitudes towards how I connect with biodiversity. I also hope to share with you other resources related to this small project: tips, books, materials, strategies, etc.
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A few of my favourite things: hiking

Vattern Lake, Sweden

 

Vouzela, Portugal

 

Parteira de Fermentemos, Águeda, Portugal

 

Tivedens National Park, Sweden

 

Rio Paiva, Portugal

 

Ermelo, Portugal

 

Vale do Rio Bestança, Portugal

 

Lake District, England

 

Arouca, Portugal

Durante os últimos anos de trabalho estudei a relação entre o ser humano e a restante biodiversidade. Entre as teorias mais fascinantes destaca-se a “Biophilia hypothesis”. Esta é uma teoria científica descrita em 1984 pelo biólogo Edward O. Wilson que defende que nós, seres humanos, temos uma afinidade inata para o mundo natural e temos tendência para procurar conexões com a natureza e com outras formas de vida. A palavra Biophillia significa amor/amizade pela vida e trata-se de uma inclinação psicológica para tudo o que é vivo ou natural e que parece ser herdada ao longo das gerações, muito possivelmente na carga genética que carregamos connosco. É magico pensar que possuímos, em cada célula, um pequeno livro que conta a história da nossa evolução, que nos mostra o nosso lugar nesta grande árvore da vida e nos aparenta a todos os seres vivos do presente, do passado e do futuro. Estar com a natureza é estar em família, é estar em casa e por essa razão é natural sentirmos-nos acolhidos, protegidos, confortáveis e livres.

Nada me preenche mais do que ficar horas no meio da natureza onde não possa ver praticamente sinais de civilização. Uma das minhas coisas favoritas é fazer trilhos pedestres. Para terem uma noção, depois do meu casamento, adiamos uma grande viagem para uns meses mais tarde, alojamo-nos no interior do país e fomos fazer trilhos! Já fiz muitos em Portugal e, nos últimos anos, alguma vontade de conhecer os países mais intensamente tem possibilitado descobrir alguns trilhos longe de casa.
De qualquer das maneiras, dentro ou fora de Portugal, é uma forma de turismo muito particular. O sightseeing das grandes cidades e pontos turísticos pode ser entusiasmante mas, ao longo dos anos fui percebendo que não me preenchia na totalidade. Eu gosto de ver os grandes ex-libris de uma cidade ou de um país, mas também tenho gostos pessoais que me atraem para pequenos pormenores que quase ninguém escolhe ver. As minhas “creative tours” têm muito a ver com isso. Mas passear é mesmo assim: há uma parte de nós que quer ver o que outros já viram… e outra que quer ver o que só o nosso coração pede.

Fazer um trilho tem em si uma atitude de desapego, ainda que seja por um pequeno período de tempo. Sair de casa, deixar o carro e carregar numa mochila tudo o necessário para nos “protegermos do mundo” lá fora é, nos dias de hoje uma pequena vitória. Se isso decorrer no espaço desconhecido, selvagem, onde não há ninguém para esclarecer dúvidas, onde vale a voz da natureza que dos desabituados de reconhecer, em que são apenas alguns sinais pintados em árvores ou pedras que nos impedem de nos perdermos em zonas remotas onde por vezes não há rede de telemóvel… bom, pode ser uma pequena aventura! Pagam-se caro as experiências radicais. Delegamos facilmente a uma empresa de turismo preparar tudo, responsabilizar-se para que tudo corra impecavelmente bem e a quem podemos reclamar no caso de chover… E há, de facto, experiências que só são viáveis assim, de forma sistematizada. Contudo, muitas vezes deixamos de as fazer quando temos aventuras gratuitas, a alguns quilómetros de casa, adaptadas a diferentes capacidades e gostos! A vantagem de pegar na mochila e num amigo e fazer um trilho é que podemos escolher, como se a “casa” fosse (porque é) nossa. É escolher como queremos fazer as coisas, aquilo a que queremos dar valor, que esforço e tempo queremos despender. É saber respeitar, cuidar um espaço que é de todos e que sentimos orgulho de partilhar. É ter confiança de abrir um portão e atravessar uma propriedade porque alguém gentilmente nos cedeu essa liberdade. É ter um planeta inteiro para descobrir. E é também fazer de uma ou duas horas de caminhada, uma semana inteira de experiências: a sonhar, apreparar, a concretizar e no fim a assimilar e recordar. Tão promissor!

During the last years I studied the relation between the humans and the rest of biodiversity. Among the most fascinating theories, “Biophilia hypothesis” stood out. This is a scientific theory described in 1984 by the biologist Edward O. Wilson who argues that we humans have an innate affinity for the natural world and tend to seek connections with nature and other life forms. The word Biophillia means love/friendship for life, it’s a psychological inclination towards everything that is alive or natural and that seems to be inherited throughout generations, quite possibly through the genetic information we carry with us. It is magical to think that we all have in each cell a little book that tells the story of our evolution, which shows us our place in this big tree of life and get us close to at all living things of the present, the past and the future. To be in nature is to be in family, to be at home and for that reason it is very natural for us to feel welcomed, protected, comfortable and free.

Nothing fills me more than spending hours in the midst of nature where I can see, virtually, no signs of civilization. One of my favorite things is hiking. For you to understand how I feel about it, after my marriage, we delayed this huge trip for a few months, we went to the interior of the country and went to hike! I’ve done a lot of hiking trails in Portugal and, in recent years, this desire to know other countries more intensely has made it possible to discover some trails away from home.
In any case, inside or outside Portugal, it is a very particular way of be a tourist. The sightseeing of the big cities and tourism sights can be exciting but, over the years, I have realized that it did not fill me entirely. Of course I like to see the great ex-libris of a city or a country, but I also have personal tastes that attract me to small details that almost nobody chooses to see. My “creative tours” have a lot to do with it. Traveling is all about this: there is a part of ourselves that wants to see what others have seen… and another that wants to see what only our heart asks for.

Hiking a trail involves some detachment, even if it is for a short period of time. These days, leaving home, leaving our car on the road and carrying in our backpack all that is necessary to “protect ourselves from the world” is a small victory. If this happens to occur in the unknown wild space, where there is no one to clarify doubts, where the voice of nature is the only voice you hear (and that we are getting unable to recognize), in which we have to trust in just some signs painted on trees or stones that prevent us from getting lost in remote areas, where sometimes there is no phone coverage… well, we might be asking for a little adventure! Radical experiences are costly. We easily delegate to a tour company to prepare everything, to make sure that everything runs smoothly and to whom we can complain if it rains… And there are, in fact, experiences that are only viable this way, in a systematized way. However, we often stop doing them even when we have free adventures, a few miles from home, adapted to different capacities and tastes! The advantage of grabbing a backpack and a friend and hike a trail is that we can choose, as if the “house” was (because it is) ours. It is choosing how we want to do things, what to value, what effort and time we want to spend. It is knowing how to respect, care for a space that belongs to everyone and that we are proud to share. It’s to have confidence while opening a gate and crossing a property because someone kindly gave us that freedom. It’s having a whole planet to discover. And it’s also to transform an hour or two of walking in a whole week of experiences: to dream, to prepare, to do it and, in the end, assimilate and remember. How bright!

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