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Desde há alguns meses que tenho tido vontade de criar uma pequena loja on-line com alguns produtos feitos à mão, por mim, com os quais vos possa oferecer maior proximidade com as minhas experiências aqui no blog. No fundo, dar-vos a oportunidade de sentir pelos produtos que fazemos, um apreço maior do que aquele que vem de um produto feito em massa. Depois de muito reflectir, de alguns apontamentos no papel, alguns desenhos e pinturas cheguei à conclusão que o primeiro produto que eu queria fazer para vocês era precisamente um caderno inteiramente feito à mão. Porquê? Estou pronta para vos contar a história…
Este blog começou com algumas linhas escritas num papel. Não era propriamente um plano mas uma ambição. Eu tinha terminado o meu doutoramento há alguns meses e queria muito escrever “novamente”. Passo a explicar.
Desde que sou pequena que gosto de escrever e inventar histórias. Devo-o a um espaço criado entre duas ou três coisas: a primeira, uma combinação genética favorável; a segunda, muitas histórias ao adormecer; e a terceira, três anos a brincar sozinha. Não vejo isto como algo triste: eu tenho muito boas recordações destes dias. Eu era apenas uma criança silenciosa.
Tanto a minha mãe como o meu pai me liam histórias para adormecer quando eu era criança. Tenho vívida a memória de ouvir a minha mãe me ler o livro “A Floresta” ao longo de várias noites. Ainda hoje é o meu favorito da Sophia e revejo-me na Isabel porque, antes da minha irmã nascer, eu brinquei muito tempo sozinha em casa da minha avó. A minha tia costuma dizer que “ela lá se desenrascava”: falava sozinha, entretinha-me a brincar e que ficava lá no meu mundo.
Foi também da minha mãe que herdei o meu amor por livros infantis e o entusiasmo pela imaginação. A primeira vez que li a “Alice no País das Maravilhas” foi a partir de um livro que tinha sido da minha mãe.
Ao meu pai eu pedia sempre a mesma história: “Senhor doutor lá de cima e do senhor doutor lá de baixo” e lembro-me de ter sido ele a ler-me “O Principezinho” pela primeira vez, quando ainda eu não sabia o significado da maior parte do seu conteúdo. Foi do meu pai que herdei um tipo de escrita simples, sem palavras difíceis, mas sobejamente elaborado. Posso escrever durante horas acerca de um alfinete se quiser. Tentem-me.
Lembro-me de algumas composições que criei para a escola ou para a escola de dança e que já se perderam no tempo. Algumas porém ainda hoje me atentam a memória: recordo-me de uma que escrevi apenas uma hora antes da aula de dança moderna para a qual tínhamos de escrever uma pequena composição que seria a base para a nossa primeira coreografia. A minha história foi escrita à mão numa folha pautada A4, que preenchi quase completamente com uma caneta BIC. Era sobre uma menina que caía na água de uma nascente e que viria a viajar rio abaixo até ao mar e, finalmente, à areia da praia. Nesse mesmo dia, deixei a minha folha na Sala 3 e nunca mais a vi… era a combinação perfeita da imaginação da minha mãe, da escrita do meu pai e da voz interior que me permitia brincar sozinha horas a fio.
Infelizmente, os últimos anos como investigadora retiraram-me alguma flexibilidade na escrita. Não me interpretem mal, escrever uma tese de doutoramento é exigente mas gratificante. Mas apesar do seu grande valor científico e académico, eu não me reconhecia no texto nem nos artigos científicos que dela derivam. Não propriamente nos assuntos e conclusões mas sobretudo no estilo de escrita. Ainda que escrevesse 100 artigos científicos não conseguia concluir que tinha sido capaz de escrever o equivalente a um livro…
Foi nessa altura que tive oportunidade de abraçar um pouco mais intensamente a minha relação com as artes, com os meus hobbies e quis fazer um registo dos meus progressos. O blog foi um bom pretexto para o fazer e com isso escrever “novamente”, ou seja, devolver-me uma escrita mais descontraída, sentida e cheia de entusiasmo que eu já não exercitava há algum tempo.
Mais ou menos ao mesmo tempo eu comecei a coleccionar pequenos cadernos para apontamentos que usava para tomar notas de posts, de ideias para escrever, para planear o conteúdo do blog, para apontamentos de pequeno cursos on-line, de workshops de fazer à mão, enfim, na sua maior parte coisas soltas e sem grande relação entrei si. Alguns estão semi preenchidos. Em alguns porém, escrevi autênticas aventuras.
Hoje tenho uma colecção generosa e, aqueles que mais gosto são feitos à mão. Há um com uma dedicatória que acho que nunca vou conseguir usar para “não estragar!” Por isso, há uns tempos atrás, resolvi aprender a fazer os meus próprios cadernos feitos à mão. Achei a experiência muito gratificante e considero que um caderno feito à mão é para mim uma ferramenta de independência. E quando oferecido como presente, um caderno é muito mais do que o seu suporte físico mas sim a promessa de algo original que só depende de quem o recebe. Com um caderno em branco podem fazer-se coisas extraordinárias!
Estas são as histórias por trás do primeiro produto da minha loja on-line. Um caderno feito à mão no qual podem também experimentar escrever “novamente”, planear as vossas próximas experiências “handmade” ou registar uma aposta num estilo de vida mais próximo dos recursos naturais. Ou, quem sabe, escrever as notas daquele romance! Nos próximos dias prometo fazer um pequeno review sobre estes cadernos para que possam saber um pouco mais sobre o design, o método de montagem e as suas características.
Quanto à loja on-line, não quero, para já, enveredar por uma área preferencial. Tal como no blog, lá vão poder encontrar outros produtos, como por exemplo, estas almofadinhas de aroma estampadas à mão. Vou querer experimentar um pouco de tudo até perceber o que mais me caracteriza mas espero que todos os produtos que criar tenham uma linha homogénea focada na ligação com a natureza, em particular com as exploração autónoma da natureza e as espécies autóctones do nosso cantinho no mundo!
Obrigada, desde já, pela vossa visita!
For some months now that I wanted to create a small online shop with some handmade products made by me, with which I can offer you more proximity to my experiences here on the blog. I want to give you the opportunity to create a new perspective for the products we make by hand and a greater appreciation for our resources that we can’t achieve with a mass produced product. After much reflection, some notes on paper, some drawings and paintings, I came to the conclusion that the first product I wanted to do for you was a handmade notebook. Why? I’m ready to tell you the story…
This blog started with some lines written on a paper. It was not exactly a plan but an ambition. I had just finished my PhD a few months ago and I wanted to write “again”. Let me explain.
Ever since I was little that I like to write and make up stories. I owe it to a space created between two or three things: the first, a favorable genetic combination; the second, many stories while falling asleep; and the third, three years of playing alone.
Both my mother and my father read me stories to fall asleep when I was a child. I have a vivid memory of hearing my mother read me the book “The Forest” over several nights. Even today this is my favorite story by Sophia. I also can recognize myself in Isabel because, before my sister was born, I played a lot of time alone at my grandmother’s house. My aunt used to say that I managed to play by myself: I used to talk alone, play alone and be in “my world”. This is not a sad thing! I remember those days happily. I just was a quiet child.
It was also from my mother that I inherited my love for children’s books and the enthusiasm for imagination. The first time I read “Alice in Wonderland” was from a book that had been her’s.
To my father I always asked the same story: “the upstairs doctor and the downstairs doctor” and I remember that he was the one reading me “The Little Prince” for the first time, when I still did not know the meaning of most of its content. It was from my father that I inherited a simple writing style: no difficult words, but superbly elaborate. I can write for hours about a pin if I want. Try me.
I remember some drafts that I created for school or for the dance school and that were lost in time. But I still remember one that I wrote just one hour before the modern dance class for which we had to write a small story that would be the basis for our first choreography. My story was handwritten on an A4-sized sheet, which I filled almost completely with a BIC pen. It was about a girl who fell into a water-spring and would travel down the river to the sea and finally to the sand of the beach. That same day, I left my sheet in Room 3 and I never saw it again… it was the perfect combination of my mother’s imagination, my father’s writing, and the inner voice that allowed me to play alone for hours when I was a child.
Unfortunately, the last few years as a researcher have taken away some flexibility in writing. Don’t get me wrong, writing a doctoral thesis is demanding but rewarding. But despite of its great scientific and academic value, I did not recognize myself in the text or the scientific articles derived from it. Not regarding the subjects and conclusions but mainly regarding the writing style. Although I could wrote 100 scientific articles, I could not conclude that I had been able to write the equivalent of a book… It’s just not the same.
It was at this point that I had the opportunity to embrace my relationship with the arts and my hobbies a little more intensively and wanted to record my progress. The blog was a good excuse to do so and to write “again”, that is, to give me a more relaxed, felt and enthusiastic writing style that I had not exercised for some time.
At about the same time I started collecting small notebooks I used to take notes for posts, ideas for writing, planning content for the blog, notes about small online courses, workshops… In fact, for the most part, loose things without much relation between them. Some notebooks are just semi-filled. In some, however, I wrote some great adventures.
Today I have a generous collection and the ones I like most are handmade. There is one with a dedication that I think I’ll never be able to use to “do not ruin it!” So, a few time ago I decided to learn how to make my own handmade notebooks. I found the experience very rewarding and I consider that a handmade notebook is for me an independence tool. And when offered as a gift, a notebook is much more than its physical support. It’s the promise of something original that only depends on who receives it. With a blank notebook can do extraordinary things!
These are the stories behind the first product of my online shop. A handmade notebook in which you can also try writing “again”, plan your next handmade experience or register a bet on a lifestyle closer to the natural resources. Or, who knows, to write the notes of that novel!
In the coming days I promise to do a little review on these notebooks so that you can know a little more about the design, the method of assembly and its characteristics.
As for the online shop, I do not want to go for a preferential area. As in the blog, there you will find other products, such as these handprinted scented cushions. I’m going to try a little bit of everything until I realize what really characterizes me, but I hope that all the products that I create have a homogeneous feeling, focused on the connection with nature, in particular with the autonomous exploration of nature and the autochthonous species of my corner of the world!
Thank you for visiting!