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Terminei o meu Foxy Quilt!
Parece mentira mas está mesmo pronto. Este quilt ainda estava a ser pesado e já se tornava muito especial. Como vos falei aqui, fui coleccionando tecidos ao longo do tempo e esperava um dia usá-los num quilt de Half Square Triangles. Mas mais do que ir de encontro a um padrão, eu queria que a sua seleccção tivesse em conta os meus gostos pessoais para que me reflectisse de alguma maneira.
Depois, durante o processo, fui percebendo que é possível aprender sempre, ainda quando achamos que usámos uma técnica simples para executar. Ouvir outras vozes experientes é essencial e relembra-nos que “nós somos” sobre ombros de gigantes e que isso é transversal. Qualquer aspecto da nossa vida. Mas é quando terminamos o quilt top que a dimensão de tudo começa ser percepcionada. É um momento muito interessante porque parece que todo o projecto dá um grande salto desde o momento em que não era mais do que um conjunto de tecidos prontos a cortar.
O quilting, por fim, dá-lhe um efeito impressionante porque torna o quilt palpável. Passa a ter textura, utilidade, dimensão e fornece o aconchego que é tudo aquilo que procuramos desde o momento em que começamos. O quilting foi um desafio porque, neste caso, resolvi acolchoar pelas diagonais o que torna o processo bem mais exigente. Foi precisa muita organização do quilt na mesa, uma sandwich muito bem feita e muita atenção a pequenas dobras nos tecidos que podem surgir durante o processo. É preciso detectá-las para podermos corrigi-las imediatamente de forma a não comprometermos todo o trabalho.
Depois de terminar o quilting, veio a minha parte favorita, a mais introspectiva: o binding. Fazer o binding não é tarefa menor quando comparada com o restante processo porque é, de todas, a parte que pode gerar mais ansiedade. Há quem se tenha rendido ao binding à máquina o que, para determinadas coisas realmente pouco importa… Mas para um quilt como este, um viés cosido à mão é como um resumo, uma análise do produto acabado e mais ainda, de todo o processo. Como quem quer terminar lentamente algo bom para que se prolongue ao menos por mais uns minutos…
Na realidade, tal como acontece com aquele excelente livro, acabar este quilt deixou-me um pouco nostálgica, como se tivesse terminado uma experiência notável… Há uma ligação directa com um objecto que torna toda a questão do despojamento absolutamente obsoleta: o uso regrado, inteligente, consciente dos recursos traz-nos ligação às coisas materiais. Mas uma ligação boa que um objecto comprado, por exemplo, simplesmente não traz. Vi-me imaginar que este quilt, estará para sempre comigo em muitos momentos da minha vida e vou poder iniciar novas histórias com ele. Mas para já, nada bate os pensamentos que correram enquanto eu o construí: desde a compra dos tecidos, durante todo o processo e até à última linha rematada.
Este quilt é uma homenagem à amizade. À verdadeira versão da amizade: não à impaciente, intolerante, invejosa, interesseira ou injusta. Mas sim à que acolhe. Comecei a coleccionar, de forma consciente, estes tecidos numa altura em que me comecei a sentir muito preenchida nas minhas amizades, incentivada pela abertura que sentia no meu coração. O tempo que decorreu até hoje ensinou-me muita coisas novas sobre a amizade e, num relativamente curto espaço de tempo, eu tornei-me uma pessoa mais madura. Este quilt conta a história desse crescimento, do estabelecimento de certezas em mim, na consolidação dos valores em que o amor se constrói. E este crescimento foi sendo reflectido à medida que fazia o quilt. Nem tudo nas amizades ao longo da minha vida foi bom e este quilt deu-me oportunidade para passar um pouco por todos esses momentos: nos bons e nos menos bons. Creio que terminar este quilt me mostrou o quanto estou madura neste aspecto, o quanto me posso amar à luz dos verdadeiros amigos que fiz ao longo de toda a minha vida e fazê-los valer para mim também, sempre que eu precisar.
Esta é a razão pela qual bordei uma pequena raposa e uma frase do livro “O Principezinho”.
Infelizmente as frases do principezinho andam na boca do mundo, toda a gente se sente eloquente por as dizer aqui e além. Achamos que somos espetaculares por acompanhar aquela selfie no Instagram com uma frase feita e que fica bem em qualquer circunstância. Há quem as use mal e até quem as diga enquanto as contraria, em simultâneo, com as suas acções. Eu não quero com isto dizer que sou diferente ou que as uso melhor, mas todo o escritor tem brio e se sente traído quando ouve as suas palavras postas em mau uso. Por essa razão eu sempre fui ponderada a usar citações deste livro que é para mim muito mais do que a famosa frase:
“foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a tornou importante.”
É bonita sim, sem dúvida. Mas para mim está longe de ser a mais importante, como aquela música boa que a rádio revela de entre um álbum 100 vezes mais empolgante. Por essa razão ponderei muito introduzir no meu quilt mais um cliché. Procurei em todo o lado, até dentro de mim, algo que fosse conclusivo para mim sobre a amizade e o amor. E cheguei à conclusão que não conhecia nada mais bem construído do que a frase:
“somos para sempre responsáveis por aqueles que cativamos”
Assim, ainda que me possa sentir desorientada para com os aqueles que amo, terei sempre a minha bússola no meu quilt como uma prece. Espero que seja útil!
I finished my Foxy Quilt!
It’s really finished! I was just in the beginning of the process and this quilt was already very special. As I told you here, I collected fabrics over time and I was hoping to use them on a Half Square Triangles quilt one day. But more than commit to a pattern, I wanted that fabric selection to take account of my personal tastes or reflect me in some way.
Then, during the process, I realized that it is always possible to learn, even when we think we have used the simplest technique. Listening to other experienced people is essential and reminds us that “we are” on the shoulders of giants and that this is transversal to any aspect of our life. But it is when we finish the quilt top that the dimension of everything begins to be perceived. It is a very interesting moment because it seems that the whole project takes a big jump from the moment it was no more than a set of fabrics.
The quilting, at last, gives the project an impressive effect because it makes the palpable quilt. It gives it the texture, utility, dimension and provides the warmth that is everything we look for from the moment we start. The quilting was a challenge because, in this case, I decided to quilt through the diagonals of my blocks which makes the process much more demanding. It took a lot of organization of the quilt on my working table, a very well made sandwich and a lot of attention to the small folds in the fabrics that could come up during the process. We need to detect them so we can correct them immediately!
After finishing the quilting, I started my favorite part, the most introspective: the binding. Binding is not a small task when compared to the rest of the process because it is, of all, the part that can generate more anxiety. Some people have given up and just use their sewing machine to make the binding, which for certain things really does not matter … But for a quilt like this, a hand-stitched bonding is like a summary, an analysis of the finished product and of the whole process. Like someone who wants to finish something good very slowly so that it lasts for at least a few more minutes …
In fact, as with that excellent book, to finish this quilt left me a little nostalgic, as if I had finished a remarkable experience … There is a direct connection with the object that makes the whole question of dispossession absolutely obsolete: the intelligent and conscious relationship with our resources and processes brings us a connection to material things. But this is a good connection that, for example, a massive produced object simply does not bring. I saw myself imagining that this quilt will be with me forever in many moments of my life and I will be able to start new stories with it. But for now, nothing beats the thoughts that ran while I built it: from the purchase of the fabrics, throughout the process and to the last stitch.
This quilt is a tribute to friendship. To the true version of friendship: not to the impatient, intolerant, jealous, selfish or unjust. But the one that welcomes. I began to consciously collect these tissues at a time when I began to feel very fulfilled about my friendships, encouraged by the openness I felt in my heart. The time that passed until today taught me a lot of new things about friendship, and in a relatively short time I became a more mature person about it. This quilt tells the story of this growth, the establishment of certain certainties in me, the consolidation of the values in which love is built. And this growth was being reflected as I made the quilt. Not everything in the friendships throughout my life was good and this quilt gave me opportunity to spend a little time thinking about all these moments: the good and the least good. I believe that this quilt has shown me how mature I am in this respect, how much I love the true friends I have made throughout my life.
This is the reason why I embroidered a little fox and a quote from the book The Little Prince as a signature for my quilt.
Unfortunately the Little Prince’s phrases are a little bit everywhere, everyone feels eloquent for saying them here and there. We think that we are spectacular for accompanying a selfie on the Instagram with a quote and that it looks good in any circumstance. Some people use The Little Prince’s quotes badly and even there are those who say them while opposing their percepts with their actions. I do not mean by this I am different or that I use them better, but every writer is terrified and feels betrayed when he hears his words misused. For this reason I have always been careful to use quotes from this book which is for me much more than the famous phrase
“It’s the time you spent on your rose that makes your rose so important.”
It is beautiful yes, no doubt. But for me it is far from being the most important, like that good song that the radio reveals from 100 times more exciting album. For this reason I though very much about introducing into my quilt another cliché. I searched everywhere, even within myself, for something that was conclusive to me about friendship and love. And I came to the conclusion that I did not know anything better built than the phrase
“You become responsible, forever, for what you have tamed”
So even though I may feel disoriented to those I love, I will always have my compass star, my measure on my quilt as a pray. I hope it will be useful!
2 Comments
Linda linda!!!
Obrigada Cláudia! Não ficou fantástica? Nunca imaginei que ficasse tão bonita e sinto-me muitíssimo ligada a ela!