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O Inverno é uma estação desconcertante para muita gente! E a natureza parece morta, cinzenta, sem interesse. Apetece passar os dias enfiada no sofá, literalmente a hibernar, à espera que o inverno passe e que venha a incontornável explosão primaveril. Mas é quando saímos da nossa zona de conforto, quando nos predispomos a ver as coisas boas que esta estação tem para oferecer, que nos surpreendemos…
Quando pensamos que a natureza nos abandonou no Outono, ao cair das folhas, é no Inverno que há coisas novas para ver, projectos para colocar em prática e preparar “a nossa casa” para um novo ciclo! Ao contrário do que podemos pensar, é precisamente durante o inverno que alguns seres vivos se atrevem um pouco mais junto dos humanos, procurando fontes de alimento e provocando encontros próprios de Inverno. É também tempo de observar as aves migratórias que chegaram no outono dos países frios, e nos fazem companhia apenas durante uns meses, regressando ao norte assim que tempo volta a aquecer. E se há seres vivos a hibernar, há também aqueles que espreitam cá para fora quando as temperaturas descem e há mais humidade, como os anfíbios, tornando qualquer zona húmida uma autêntica sala de concerto! As dunas e areais das praias ficam lisos, sem ninguém, e deixam descobrir pegadas e sinais de quem lá vive. E é esta a melhor de todas as épocas para visitar estuários e as lagoas espalhadas pelo nosso país! Se queremos sentir a natureza de uma forma intensa, com maior impacto no nosso interior em vez de nos deixarmos simplesmente absorver pela enorme exuberância dos meses de calor, o Inverno é certamente a estação que mais nos desafia. Até as cores neutras do Inverno são interessantes: as saturações e os contrastes são atenuados, tudo parece coberto de um manto de tule que indefine os traços e de uma neblina que deixa tudo calmo, enevoado, como se estivéssemos a sonhar acordados.
É precisamente durante o Inverno que ocorre a maior parte do projectos de censos de aves. E sendo que estes são, em grande parte, projectos de ciência cidadã (ou seja, projectos científicos que contam com a colaboração do público sensibilizando-o também para as temáticas abordadas) são uma excelente oportunidade para sair cá para fora e sair surpreendido!
Este ano, participei pela primeira vez no projecto ARENARIA. O projecto tem como objectivo obter uma estimativa da distribuição e abundância das aves costeiras invernantes, através da cobertura da costa marítima. Eu sou bióloga, é certo que estou sensibilizada para o assunto e fazer uma contagem, não é para mim assustador! Contudo, a maior parte das vezes, estes projectos não exigem mais do que algum treino, um guia de aves, uma leitura cuidada da metodologia e preparar a nossa contagem. E, para qualquer dificuldade, à vontade para pedir conselhos aos organizadores regionais que estão sempre prontos a colaborar.
Fiquei responsável por cobrir uma quadrícula de 10km ao longo da costa e fazer a contagem das aves na zona entre marés. Isto implicou andar pelo menos 10km pelo areal onde normalmente vagueio frequentemente durante o verão. Foi muito interessante percorrê-lo durante o Inverno, tomar consciência da sua dimensão, tê-lo praticamente só para mim e descobrir quem se aproxima quando a confusão foge…
Podem ficar a pensar que este projecto não resulta em mais do que contar gaivotas. Mas estão enganados. Para além das habituais gaivotas, consegui observar Pilritos, Maçaricos, Rolas-do-mar, Corvos-marinhos, Guinchos e um bando de cerca de 250 Patos-pretos!
E como a minha quadrícula terminava junto a uma zona húmida, no regresso resolvi visitá-la e tive o prazer de me cruzar com Patos-reais, Garças-reais, Girada-Rios, Cartaxos e mais uns quantos Corvos-Marinhos!
Esta é uma experiência de Inverno que aconselho vivamente e que quero muito voltar a repetir!
Winter is a challenging season for a lot of us! Nature looks dead, gray, uninteresting. You want to spend your days tucked on the couch, literally hibernating, waiting for the winter to pass and expecting the unforgettable spring explosion! But it is when we leave our comfort zone, when we are predisposed to see beyond it that we are surprised by winter…
When we think that nature has abandoned us in the fall, winter offers so much new things to see, projects to put into practice and prepare “our house” for a new life cycle! Contrary to what we may think, it is precisely during the winter that some living beings dare a little bit closer to humans, seeking sources of food and provoking unexpected encounters with us. It is also time to observe the migratory birds that arrived in the autumn from the northern countries, and are our company only for a few months, returning to the north as soon as the weather gets warmer. And if there are several animals hibernating, there are also those who come out when temperatures drop and there is more water available, like amphibians, making any wetland a real concert hall! The dunes and the sand on the beaches is so flat without anyone, and let us discover who lives there by following their footprints and signs. And this is the best of all times to visit estuaries and lagoons throughout our country! If we want to feel nature in an intense way, with the greatest impact on our interior instead of just absorb the enormous exuberance of the hot months, winter is certainly the season that most challenges us. Even the neutral colors of winter are interesting: the saturations and contrasts are attenuated, everything seems covered with a mantle of tulle that blurs the landscape and a haze that leaves everything calm, misty, as if we were daydreaming.
It is precisely during the winter that most of the bird census projects take place. And since these are, for the most part, citizen science projects (that is, scientific projects that count on the collaboration of the public), they are an excellent opportunity to get out and be surprised!
This year, I participated for the first time in the project ARENARIA. The project aims to estimate the distribution and abundance of wintering coastal birds by covering the coastline on our country. I am a biologist, naturally I am aware of the importance of the subject and make a bird count, it is not scary for me. However, believe, most of the times, these projects do not require more than a small training, a bird guide, a careful reading of the methodology and a preparation of your field trip. And for any doubt, feel free to ask for advice to the regional organizers who are always ready to collaborate!
I was responsible for covering a 10km grid along the coast and counting the birds in the tidal zone. This made me walk at least 10km along the beach, on the sand, where I usually wander often during the summer. It was very interesting to go through it during the winter, to be aware of its dimension, to have it almost only for me and to discover who is approaching when the confusion of the summer runs away…
You may be thinking that this project does not result in more than counting gulls. You couldn’t be more wrong. In addition to the usual seagulls, I was able to count sanderlings, common sandpipers, ruddy turnstones, great cormorants, black-headed gulls and a flock of about 250 common scoters!
And as my grid finished near a wetland, on the return I decided to visit it and had the pleasure of crossing with mallards, herons, kingfishers, european stonechats and a few more cormorants!
This is a winter experience that I strongly advise you to try and that I really want to repeat!