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Durante anos a fio o Inverno era um grande peso para mim. Há sim quem deprima ligeiramente durante esta época, sobretudo quando a chuva se faz sentir a toda a hora, dias a fio. Eu aprendi a valorizar o tempo fora de casa mas se há algo que o Caminho me obrigou a deixar para trás foi o “medo” da chuva. Se chuvisca não há motivo para não sair cá fora, basta calçar as galochas e uma gabardine: não há “mau tempo”, apenas mau equipamento… E se chove muito, há coisas em casa que privilegio para os dias de Inverno, para que nunca falte o que fazer. Mas comecei a achar que havia uma certa teimosia em querer que o Inverno simplesmente passasse. Parece que andamos simplesmente à procura de sinais da chegada da primavera e não vivemos o que o Inverno tem, porque tem, para oferecer.
Quando, por entre os dias de chuva, surgem os primeiros raios de Sol, o Inverno pode trazer as melhores experiências de passeio e relevar experiências únicas e características desta estação.
A luz do Inverno pode não ser tão intensa e dramática como a luz do Outono mas é ajudada por filtros característicos da estação que dão à paisagem cores nunca antes vistas, sempre misturadas de um tom acinzentado que ameniza as saturações: o orvalho, a geada da manhã, os arco-íris depois dos aguaceiros, são alguns deles… Sair de gorro e luvas calçadas numa manhã de Inverno, envergar um bom casaco impermeável e quente pouco depois do amanhecer, deixando arrefecer apenas a ponta do nariz, pode trazer mais conforto do que imaginamos. Avançar com consciente consequência numa poça de chuva deixa de ser uma brincadeira infantil para ter o caracter sério de uma experiência puramente humana para nos abrandar o temperamento e nos entregar ao que o mundo nos oferece.
O Inverno é ainda mais especial junto da Natureza. Quando achamos que o mundo está dormente, ele tem na verdade coisas extraordinárias para descobrir! Espreitar as aves invernantes, sobretudo as espécies de anatídeos (família dos patos) que procuram as zonas húmidas do nosso país para passar o inverno; procurar os vestígios da presença de mamíferos como pegadas, cheiros, restos de alimentos; apreciar o esqueleto das árvores que se despem da sua folhagem dos tempos mais quentes; acompanhar a maturação dos cogumelos que despertaram no outono e que agora explodem no seu auge; observar o céu de Inverno com as suas estrelas características e singulares; ouvir as aves nocturnas cantar; monitorizar o crescimento das horas de luz; ouvir o entusiasmo dos anfíbios nos charcos; investir em chamar a biodiversidade para os nossos jardins, dando-lhes alimento e oferecendo-lhes abrigo. Tudo isto são actividades quase exclusivas desta época (ou que fazem nela mais sentido) e que nenhum calor do Verão pode substituir.
Depois do Natal, já aproveitamos uns dias livres para nos perdermos na Natureza e decidimos algumas coisas que gostaríamos de fazer este Inverno. Deixo-vos aqui uma lista de sugestões:
- Visitar uma zona húmida para observar as aves invernantes
- Vaguear numa floresta e ver o musgo, os líquenes e os cogumelos no seu auge.
- Desenhar o esqueleto de uma árvore de folha caduca, completamente despida revelando a sua estrutura e composição
- Observar o céu de inverno e identificar as constelações
- Ouvir as aves nocturnas dentro e fora das cidades
- Acompanhar semanalmente as horas do nascer e por do sol
- Visitar um charco
- Fazer um abrigo para aves
- Oferecer alimento para atrair aves para os nossos jardins e hortas
Ao longo deste inverno espero poder contribuir com partilha de algumas destas experiências convosco!
For years the winters always were a heavy burden to me. There is a slight depressing during this time, especially when the rain falls the time for days. I learned to value time away from home but if there is something the Camino forced me to leave behind: the “fear” of the rain. If it rains, there is no reason not to go outside, just put on a pair of rubber boots and a raincoat: there is no “bad weather”, just bad equipment… And if it rains a lot, there are things at home that I save for the winter days, and then there is always something to do at home. But I began to think there was a certain stubbornness about wanting the winter to just pass away. It seems that we are simply looking for signs of spring and we do not live what winter has, because it has, to offer.
When, during a rainy day, the first rays of the sun appear, winter can bring the best walking experiences and reveal unique experiences and characteristics of this season.
The light of winter can not be as intense and dramatic as the light of autumn but it is has these characteristic season filters that give the landscape colors never seen before, always mixed with a greyish tone that softens the saturations: the dew, the frost, the rainbows after a shower are some of them… To leave home wearing a hat and gloves on a winter morning, bring a good waterproof and warm jacket shortly after dawn, letting only the tip of the nose to cool, can bring more comfort then we imagine. Moving forward, with conscious consequence, into a puddle of rain is no longer a child’s play and has the serious character of a purely human experience to slow down our temper and surrender ourselves to what the world offers us.
Winter is even more special in nature. When we think the world is dormant, it actually has extraordinary things to discover! Observing the wintering birds, especially the species of Anatidae (family of ducks) that seek our wetlands to spend the winter; look for traces of mammals such as footprints, scents, food remains; appreciate the skeleton of the trees that are stripped of their foliage of the hotter times; accompany the maturation of the mushrooms that awakened in the autumn and now explode at their height; observe the winter sky with its characteristic and unique stars; hear the nocturnal birds singing; monitor the growth of light hours; to hear the enthusiasm of amphibians in the ponds; calling biodiversity to our gardens, giving them food and shelter. All this is almost exclusive activities of this season (or that make more sense during this time of the year) and that no summer heat can replace.
After Christmas, we have taken a few days off to get lost in Nature and decided on a few things we would like to do this winter. Here is a list of suggestions:
- Visit a wetland to observe the wintering birds
- Walk in a forest and see the moss, lichens and mushrooms at their peak
- Draw the skeleton of a deciduous tree, completely naked, revealing its structure and composition
- Observe the winter sky and identify the constellations
- Listening to night birds in and out of the cities
- Follow weekly sunrise and sunset hours
- Visit a pond
- Make a bird shelter
- Offer food to attract birds to our gardens and vegetable gardens
Throughout this winter I hope to contribute with sharing some of these experiences with you!