Pine cones: a good excuse

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Os passeios de Outono são os meus favoritos!
Ah! Não há nada como o tempo quente para caminhar, mas o encanto da natureza no outono acrescenta aos passeios uma espécie de cumplicidade com o mundo.
Não me chegam os dedos das mãos para justificar um belo passeio entre jardins e pinhais quando as árvores, ao adormecer, cedem as folhas coloridas como uma criança que deixa cair o brinquedo que tem na mão quando o sono se aproxima… E essas mesmas folhas servem de cobertor quente aos cogumelos que, apesar do frio, começam a despertar, estremunhados, espreguiçando-se para a luz pardacenta. Há uma certa poesia nesta imagem! Tanta que por vezes apetece ficar quieta, ser invisível durante o tempo necessário para os ouvir brotar da terra. Mas como não se aprecia tudo sem se experimentar eu gosto de entrar no quadro, dar um bom passeio e sentir-me una com a natureza.

Todos os anos, antes das primeiras grandes chuvas vamos apanhar pinhas para acender a lareira no inverno. Apanhar pinhas, bom, não é o passatempo mais glamoroso, nem sequer parece ser digno de um post. Mas para esta tarefa eu embrenho-me mais profundamente nos pinhais, sem um destino concreto mas com alguma ambição de os ir descobrindo, a pouco e pouco, e ver o que aparece. E aparece de tudo: os líquenes que vestem as árvores com mais tons do que eu consigo imaginar, cogumelos que brotam como pequenos tesouros pousados, ao de leve, no chão, as aves que cantam para nós uma sinfonia ensaiada durante anos e anos, as folhas, os fetos e as agulhas de pinheiro que não permitem vislumbrar o solo porque se confundem com ele, as teias de aranha tecidas secretamente e que só se revelam pela mestria das gotas de orvalho…

Sim, há quem compre pinhas algures: bem secas e bem feitas, todas iguais, com calibre! E sim, elas não servem para um post, porque não há nenhum encanto escondido. Eu, que as apanho do chão num jogo de descobertas, trago pinhas maiores, mais pequenas, mais robustas e mais singelas. Umas bem abertas como flores maduras, outras como botões que só abrem completamente ao fogo da lareira, estalando aqui e além num autêntico fogo de artifício. Algumas vêm cobertas de filamentos verdes, castanhos, como xailes tricotados. De repente já não são só as pinhas para lareira que trago para casa, e o que trago, na sua maior parte, não se compra em lado nenhum. E isso é digno de se escrever…

Autumn tours are my favorites!
Ah! There is nothing like the warm weather to go for a walk, but the charm of nature during autumn adds complicity with the whole world.
There are countless reasons to justify a beautiful walk in a great garden or in the woods when the trees fall asleep, giving up their colored leaves like a child who drops his toy when the sleep arrives… And these leaves make the warm blanket for the mushrooms that, despite the cold, begin to wake up, quaking and stretching out into the brownish light. There’s some poetry in this picture! So many that sometimes it feels like being quiet, invisible, for enough time to hear them sprout from the earth. But since you do not appreciate everything without experiencing it, I like to get into the picture, take a good walk and feel one with nature.

Every year, before the first big rains, we go on a walk to pick pine cones to light the fireplace during the winter. Picking pine cones, well, it’s not the most glamorous thing, it does not even seem to be worthy of a written post. But for this task I immerse myself more deeply into the woods, without a determined destiny, but with some ambition to discover them, calmly, and see what happens. And the picture appears: the lichens that clothe the trees with more tones than I can imagine, the mushrooms that sprout like little treasures, carefully alighted on the ground, the birds singing for us a symphony rehearsed during many years, the leaves, ferns and pine needles that do not allow a glimpse of the soil because they mix with it, the cobwebs that were secretly woven and that are only revealed by the mastery of the dewdrops… Yes, some people buy pine cones somewhere: well dried and well made, all the same! And yes, they do not fit a written a post because there is no charm hidden on them. I pick them from the ground in a game of discoveries: I bring bigger, smaller, robust and delicate pine cones. Some are already open like ripe flowers, others, like buttons, will only open completely over fire, popping here and there like a genuine firework. Some come covered with green filaments, brown, like knitted shawls. Suddenly, it’s not just a bunch of pine cones that I bring for the fireplace, and what I bring, is not for sale. And this is worth to be written…

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