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Há anos que pretendia fazer O Caminho e já nem lembro das justificações que dei para não o fazer até hoje. A verdade é que nunca senti que tinha de ir. O que eu tinha era apenas pura curiosidade e nem sempre isso determina uma aventura.
Ora, em Fevereiro, eu soube que este ano faria o meu primeiro Caminho.
Dentro de algum tempo vou partir de Valença do Minho, pelo Caminho Português Central, em direcção a Santiago de Compostela. Vou a pé, numa série de 6 jornadas diárias entre os 15 e os 25Km, num total aproximado de 122Km anteriormente percorridos por milhares de outros peregrinos.
Vou por minha conta: de mochila às costas, sem carros de apoio para aliviar o peso dos ombros, tendo como únicas companhias o meu marido e um amigo e levando apenas o indispensável e sensato para caminhar, pernoitar e caminhar novamente. É só isto, nada que nunca outra pessoa tenha feito. O Caminho é mesmo assim, simples.
No entanto, e durante algum tempo, este será um assunto mais ou menos regular no blog. Não porque me queira gabar daquilo que vou fazer ou para convencer-vos a embarcar na onda das peregrinações. Vou escrever sobre o assunto porque me apercebi de quão importante e ao mesmo tempo tão insuficiente foi para mim a informação que consegui encontrar acerca do Caminho na internet. Foi muito… sobre exactamente o mesmo. Eu não consegui compreender porquê. É que independentemente da simplicidade e vulgaridade desta pequena aventura e do número de testemunhos espalhados pela web, há muitos pesos na balança que determinam a partida. E o número, o tamanho e gravidade desses pesos é diferente para cada um de nós. Ora eu não encontrei nenhuma balança por aí com um conjunto de pesos igual ao que me empurrou nesta aventura.
Não quero com isto, no entanto, deixar de publicar o habitual! Nada disso! Quero partilhar convosco como o pensamento que desenvolvo no blog é transversal a todos os acontecimentos na vida e verão como o feito-à-mao, a comunhão com a natureza e os seus ritmos podem descer mais intensamente sobre nós quando nos predispomos a cingir-nos ao essencial.
I have been thinking about walking the Camino de Santiago for years, and I no longer remember the excuses I gave for not doing so. The truth is, I never felt that I had to go. What I had was pure curiosity, and it does not always determines an adventure.
Well, last February, I knew that this year I would walk my first Camino.
Soon, I will leave from Valença do Minho and walk through the Central Portuguese Camino towards Santiago de Compostela. I will go on foot, during 6 days, each journey between 15 and 25 km, a total of 122 km previously traveled by thousands of other pilgrims.
I go on my own: backpacking, no support cars to lighten my shoulders from the weigh of backpacks, my only company will be my husband and a dear friend. I will only take the indispensable and wise to walk, spend the night in the albergue and walk again. It’s just this, pretty basic, everyone does it. The Camino is like this, simple.
For some time, this will be a regular subject on the blog. Not because I want to boast about what I’m going to do or to convince you to embark on pilgrimage. I will write about it because I realized how important and, at the same time, so insufficient was the information I was able to find on the internet about the Camino. It’s just… to much of the same thing. I couldn’t understand it because, regardless the simplicity and vulgarity of this little adventure and the number of testimonies spread across the web, there are many weights in the scale that determine the departure. The number, the size of these weights is different for each one of us. And nothing about what I found had the exact same set of weights that pushed me in this adventure.
However, I do not want to stop publishing the themes and issues I always do here! Not at all! I just want to share with you how these themes that I develop on the blog can be transversal to all events in life. And you will see how handmade, nature contact and nature rhythms can embrace us more intensely when we are predisposed to reduce some things to the bare essencial!
6 Comments
Há cerca de 17 anos comecei a procurar informação sobre por onde passava o caminho, na altura vivia em Santa Maria da Feira.
Pouca informação encontrava e a que encontrava era contraditória. hoje sei que essa foi a minha principal desculpa (na altura) para não fazer o caminho.
Volvidos 5 anos, encontrei num fórum o comentário de alguém que respondeu a minha questão da seguinte maneira: “O Caminho começa a porta de tua casa e passa pelo teu coração”. 1 mês depois estava na estrada, de mochila as costas, caminhando pelas estradas nacionais até que próximo da cidade da Maia reparei num bebedouro com uma Vieira e logo no cruzamento seguinte uma seta “mal” pintada de azul… A partir desse momento fui guiado até Santiago ora por setas pintadas ora por azulejos.
E sim, o caminho é mágico bem mais mágico do que “chegar” a Santiago.
Bom caminho 🙂
Bené! É isso mesmo. Desta vez, por razões logísticas, vou partir de Valença mas agora, quando saio de casa, estou cada vez mais atenta às ruas e surpreendo-me sempre quando, em locais onde passo com alguma regularidade, encontro setas ou vieiras nas quais nunca tinha reparado. E é bem verdade: o Caminho começa cá dentro. Afinal de contas, seguir caminhos traçados pelos outros só nos mostra os locais onde estes chegaram… É preciso encontrar um “caminho” novo, nosso e quem sabe ele até se cruza com os dos outros peregrinos. Obrigada pelas tuas palavras, fizeram-me reflectir!
Peregrinação, ainda que acompanhada, é um ato pessoal, individual.
Se é fácil? Não.
Se queremos desistir muitas vezes? Sim.
Se doí? Sim. 🙂
Choramos, rimos, falamos, silenciamos.
Ainda assim não me arrependo de o fazer todos os anos.
Peregrinar obriga-nos a reflectir e a falar connosco próprios, a ouvir-nos e isso não é fácil.
Chegar é um momento único, surpreendente…mágico até. Vais entender-me depois.
Mas regressamos a casa diferentes, mais ricos, mais sábios.
Vou ansiosamente acompanhar o teu relato, pois quero muito fazer Santiago (faço o Caminho de Fátima), mas agora outro plano se sobrepõe!
Ana! Obrigada pelas tuas palavras, vou levá-las comigo e lembrar-me delas, sobretudo quando o cansaço for maior e quando o silêncio se impuser sobre mim. Vou saber que quer o cansaço como o silêncio fazem parte. Tenho um amigo que chegou há pouco tempo de Santiago e que me falou no incrível trabalho do silêncio no nosso interior durante o Caminho. Vou partilhar um pouco de tudo e estou aberta a questões também. Porque as balanças e pesos são diferentes de pessoa para pessoa. Se eu puder ajudar a esclarecer outros em coisas em que nunca tinha pensado, faço mesmo questão!
Comecei há um ano a fazer o Caminho no coração ,daqui há duas semanas vou começar a partir do momento que sair de minha casa.Que São Tiago venha comigo!
É esse o espírito! O Caminho começa quando o a vontade nos atinge. 🙂 Por vezes antes até, mas só descobrimos depois…