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Já se devem ter apercebido que, de onde a onde, o cabeçalho do blog (e o do facebook) se vai modificando com uma nova mancha de cores. Esta foi a minha forma de valorizar duas coisas muito importantes para mim. Em primeiro lugar a mudança das estações e a dinâmica natural, algo que sempre quis que o blog exprimisse quer nos textos como na sua imagem. Em segundo lugar, a minha paixão pelos crafts e pela arte.
Eu sou bióloga, mas o meu amor pelas artes sempre falou tão alto cá dentro como o meu amor pela natureza.
Uma das minhas coisas favoritas é pintar. As aguarelas, óleos e pastel apareceram na minha vida há alguns anos atrás, numa espécie de experimentação, um hobby para distrair e alimentar o gosto por usar as mãos para exprimir.
Hoje, a pintura tem um significado maior, mais consciente: não é apenas um hobby. É a criação de uma memória. Se há algo que nos pode ultrapassar, mais do que a profissão que fazemos todos os dias ou o dia-a-dia, aquilo que, mais do que nós, perdura é o que deixamos feito. É esse o segredo, o elixir, para a imortalidade.
Infelizmente estamos num mundo de escolhas. E a excelência está por trás de uma dedicação algo doentia por essas mesmas escolhas: uma exclusiva dedicação a uma profissão, que é a única coisa que nos permitimos que tenha tanta importância como a família. As duas grandes torres instituídas: família e o trabalho. Assim escrito parece até redutor.
Ora, há uns tempos atrás ouvi um podcast, precisamente sobre fazer escolhas e sobre dizer “não” num mundo em que é muito mais fácil (e agradável) dizer “sim”. O objectivo do podcast era desmistificar a ideia de que dizer não é fechar uma porta. Porque não é… é poder escolher que tipo de porta se quer fechar, ao pormenor e, por outro lado, permitir abrir outras. Dizer “não” também é dizer “sim”. Dizer “não” é criar possibilidades. Se eu não alimentar este amor por criar? Se eu lhe disser não por ter dito sim a algo que não amo? Se for aos poucos fechando essa porta, discretamente, para não ter de admitir a minha escolha? Não ficarei repetidamente em frente a essa porta fechada, com vontade de escutar de ouvido colado à madeira ou de espreitar pela fechadura, sempre que passar por ela?
Lembrei-me de uma frase de um amigo: “só temos uma vida”. Caramba, parece frase feita mas é uma grande verdade… e a vida que temos está limitada por todos os lados. E essas são “escolhas” que não pudémos fazer. Face à imensidão do tempo, o período durante o qual vivemos é insignificante, face à imensidão do espaço, o “pale blue dot” a que chamou Carl Sagan à Terra onde moramos é infinitamente pequeno, face à originalidade da vida (o nosso ADN é o único) tudo o que não fizermos ficará por fazer porque ninguém mais o fará de igual maneira, ninguém. Esta vida é tudo o que temos, é a oportunidade de ouro para experimentar tudo aquilo que o coração mandar, para lá das escolhas que a nossa vida em sociedade determina. As exigências da vida contemporânea são grandes, e sinto-me sempre inexperiente quando deparada com um desafio. Por mais que tenha estudado, por mais títulos académicos que tenha, por mais funções importantes que desempenhe, vou sempre sentir-me insuficiente, vou sempre sentir que é um grande risco. Mas quando tenho um desafio desses, é precisamente na arte que encontro refúgio e orientação: é então que penso nas telas e papeis que começam em branco e que eu vou, aos poucos, preenchendo, calmamente, sem pressas nem obrigações, e acabo sempre por admirar-me com as minhas próprias capacidades. É uma experiência extraordinária e uma grande lição de vida. É uma porta que não quero fechar.
A partir de hoje para além das séries de posts nas quais tenho já vindo a trabalhar (Book Reviews, Creative Trips e Crafts on the screen), vou publicar uma mão cheia de posts sob o título “A few of my favorite things”. Entretanto, contem sempre com novas manchas de aguarela a preencher o blog de onde a onde. Talvez esta seja mesmo a minha imagem de marca.
You should have noticed that, here and there, I change the blog header (and that of Facebook) with a new watercolor blur of colors. This was my way of valuing two very important things for me. In the first place the changing seasons and the natural rhythms, something that I always wanted the blog to express both in the texts as in the image. Secondly, my passion for crafts and art.
I am a biologist, but my love for arts has always spoken as loudly inside me as my love for nature.
One of my favourite things is painting. Watercolors, oils and pastels appeared in my life a few years ago, as a kind of experimentation, a hobby to distract and nourish my willing for using my hands to express something.
Today, painting has a greater, more conscious meaning: it is not just a hobby. It is the creation of a memory. If there is something that can overtake us, more than the job we do every day or our daily life, that, more than ourselves, endures, is what we make. This is the secret, the elixir, for immortality.
Unfortunately we are in a world of choices. And excellence lies behind a somewhat sickening dedication to those same choices: an devotion to a profession, which is the only thing we allow ourselves to be as important as family. The two great towers instituted: family and work. Somehow, it feels limited.
Well, some time ago I heard a podcast, about making choices and saying “no” in a world where it is much easier (and pleasant) to say “yes.”
The purpose of the podcast was to demystify the idea that saying no is not closing a door. Because it’s not … it’s being able to choose what kind of door you want to close, with detail and, on the other hand, to open other doors. To say “no” is also to say “yes.” To say “no” is to create possibilities. What if I don’t feed this love for create? What if I say no to something I really want just because I said yes to something else I don’t even love? If I slowly shut that door so I do not have to admit a choice? Won’t I be held in front of that closed door, eager to hear behind it or look through the keyhole whenever I pass by?
I remembered a phrase from a a good friend: “We only have one life.” Heck, it sounds like a catch phrase, but it’s a great truth… and the life we have is bounded on all sides. And these are “choices” we could not make.Regarding the immensity of time, the period during which we live is insignificant. Taking into account the immensity of space, the “pale blue dot” (Carl Sagan) where we live is infinitely small. Given the originality of life (our DNA is the only one of its kind) everything we don’t do will be lost forever because nobody else will do it in the same way, no one.
This life is all we have, it is the golden ticket to a experience where our heart commands, beyond the choices that our life in society determines. The demands of contemporary life are huge, and I always feel inexperienced when faced with a new challenge. As much as I have studied, as many academic titles I could have, as more important my functions could be, I will always feel inadequate, I will always feel that making is a great risk. But when I have such a challenge, it is precisely in my painting and artsthat I found my refuge and orientation: I think of my canvases and papers that begin white and to whichI gradually add with colour, one brushstroke at a time, calmly, without haste or obligation, and I always end up surprising myself with my own abilities. It is an extraordinary experience and a great lesson in life. It’s a door I don’t want to close.
From now on, along with the series of posts I’ve been working on (Book Reviews, Creative Trips and Crafts on the screen), I’m going to publish a handful of posts under the title “A few of my favorite things.” Meanwhile, you can count with a new watercolor blur here and there.