Handmade Costumes

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O Carnaval, ou Entrudo, em Portugal é uma tradição muito antiga e não, não tem origem no Carnaval do Brasil! Começou a fazer história por volta do séc. XVI com as brigas de Entrudo que não eram mais do que partidas e travessuras entre o povo. Mais tarde algumas destas brincadeiras foram sendo substituídas por máscaras e cortejos em que as partidas, os discursos sarcásticos e de reacção continuavam a estar na ordem do dia.
Comprometo-me a falar um pouco mais acerca do entrudo Português no futuro mas hoje venho partilhar convosco as fantasias da minha infância.

Na minha infância o Carnaval já era um pouco diferente: toda a gente se mascarava de alguma coisa entre crianças e adultos. E até hoje, sobretudo as crianças, aproveitam  para assumir o papel de personagens, profissões, animais ou qualquer outro devaneio da sua imaginação vestindo fantasias próprias para o dia que são por vezes tão antecipadas quanto o vestido da comunhão ou o do dia de Natal!
Eu, tal como as crianças que referi acima, também assumi as mais variadas personagens sob o empenho das mãos mágicas da minha mãe.
Todos os anos, depois do Ano Novo, a minha mãe decidia connosco as fantasias para aquele ano e, durante os meses de Janeiro e Fevereiro dedicava-se a dar forma e costurar pelas própria mãos as nossas fantasias de Carnaval.
Houve um pouco de tudo: Capuchinho Vermelho, joaninha, borboleta, malmequer, coelho, Branca de Neve, fada, carta de baralho, índio, boneca, vicking, pierrot, pajem, Peter Pan, Minnie, bruxa, Harry Potter, noite (com estrelas e tudo)! Acho que não consigo listar todas elas porque quando paro de o fazer, passados dois minutos, lembro-me de mais uma! Entre mim e os meus irmãos, há um grande baú em casa da minha mãe reservado para as fantasias de Carnaval. Todas elas, de tão bem executadas e originais, acabaram por passar por todos, ou quase todos os meus primos.

Aquela era a época do handmade por excelência! Fora quem fazia as suas fantasias em casa ou as mandava fazer na costureira, só era mais comum alugá-las nos bazares feitas com muita qualidade e usadas com cuidado. Comprar uma fantasia era muito caro.
Infelizmente, com as indústrias a explorarem cada vez mais mercados e a falta de tempo das famílias para aprender e fazer, as fantasias feitas à mão, alugadas ou mesmo improvisadas em casa, deram lugar a disfarces feitos industrialmente e comprados a um preço muito acessível. Mas nem tudo são rosas. Os bons, mais uma vez, são muitíssimo caros. Os acessíveis reduzem-se a um número limitado de personagens, representadas apenas superficialmente, sem qualquer personalidade, feitos de tecidos que não podem ser lavados (porque se desfazem) e que se repetem facilmente. É muito frequente encontrar três Homem-Aranha exactamente iguais numa mesma fila de supermercado… e é muito frustrante perceber que não somos o único Homem-Aranha do mundo, nem tão pouco do supermercado.

Felizmente, os materiais acessíveis e algum engenho dos pais, familiares ou professores nos últimos anos tem desafiado cada vez mais a imaginação. No ano passado, a escolinha em frente a minha casa incentivou os pais a criarem fantasias que representassem as frutas e os legumes que as crianças tinham aprendido na escola ao longo do ano lectivo. Ora sendo muito raro encontrar este tipo de disfarces à venda, os pais viram-se obrigados a por mãos à obra e criar as suas próprias fantasias. Foi muito divertido ver o desfile sair: desde ananases, bananas, couves e até um alho francês, todos feitos à mão, havia ingredientes para uma variadíssima salada de frutas e uma sopa bem recheada!
Este ano já me cruzei com uma amiga que desabafou: “Ora o meu filho quer ir fantasiado de Torre dos Clérigos…alguma ideia?” Era óbvio que a primeira tentativa era que ele esquecesse aquilo e optasse por algo mais simples… mas não aconteceu e ela acabou por abraçar a ideia cortando a forma da torre, relógio e sinos usando folha de espuma. Pois se afinal é Carnaval para ser alguém diferente por um dia, não o será para experimentar algo completamente novo?

 

Carnival in Portugal is a very old tradition and no, it doesn’t have nothing to do with the Brazilian Carnival! It began to make history around the 16th century with the “Brigas de Entrudo” that were nothing more than games, tricks and mischiefs between people. Later on, some of these games were replaced by masks and parades in which masks, sarcastic and reactionary speeches continued to be an important part of the carnival festivities.
I commit myself to speak a little more about the Portuguese carnival and its origins in the future but, today, I come to share with you the costumes of my childhood.

During my childhood the Carnival was somehow modified already: everyone used to mascarade, even adults. Children, particularly, enjoy these days by playing the role of their favorite hero, profession, animal or any other imagination character!
As the children I mentioned above, I also dressed as my favorite characters using clothes that were handmade by my own mother.
Every year, after the New Year Day, my mother and us decided the costumes for that year’s Carnival. Then, during the months of January and February she dedicated herself to shape and sew by her own hands our Carnival costumes.
I dressed the most intriguing costumes: Little Red Riding Hood, ladybug, butterfly, marigold, rabbit, Snow White, fairy, playing card, american indian, doll, vicking, pierrot, pageboy, Peter Pan, Minnie, witch, Harry Potter, night (with stars to)! I don’t think I can list them all because when I stop, after two minutes, I remember one more! Between me and my brothers, there is a big chest in my mother’s house reserved for Carnival costumes. All of them were so well executed and were so original, that were also used by almost all of my cousins.

That was the era of handmade! Whoever made their fantasies at home or had them done in the dressmaker, it was only more common to rent them in the bazaars where costumes where also nicely done, with great quality and used with care. Buying a costume was very expensive!
Unfortunately, during the last decades the handmade, rented or even improvised at home costumes, were substituted by industrially made costumes purchased at a very affordable price. But it’s not all good. The good costumes, once again, are terribly expensive. The cheap ones are reduced to a limited number of characters, represented only superficially, without any personality, made of fabrics that can not even be washed and are found repeatedly. It’s very common to find three exactly equal Spider-Man in the same supermarket payment queue… and it’s very frustrating to realize that you’re not the only Spider-Man in the world, not even in the supermarket!

Fortunately, the increasing amount of accessible materials and some stimulus of parents, family members or teachers in the past few years has challenged the imagination for carnival costumes. Last year, the school near my home encouraged the parents to create costumes that represented fruits and vegetables that the children had learned throughout the school year. Since it is very rare to find such costumes for sale, the parents found themselves forced to get to work and create their own costumes by hand. It was a lot of fun to see the parade coming out of the school: from pineapples, bananas, cabbages and even a french garlic, all handmade, there were ingredients for a diverse fruit salad and a well stuffed soup!
This year a friend said: “Well, my son wants to go dressed as Torre dos Clérigos… any idea?” (Torre dos Clérigos is an iconic building in the city of Porto, have a look here). Obviously her first attempt was to let him forget about it and go for something simpler… but it did not happen and she ended up embracing the idea by cutting out the shape of the tower, clock and bells using EVA plastic. It sets me thinking: Carnival is all about being someone else for a day. Could it also be about trying something completely new?

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4 Comments

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  2. Não imaginas como me revejo no teu post! Do alto dos meus 32 anos, é assim que me lembro do Carnaval da minha infância: coelhinhos, joaninhas, capuchinho vermelho, cigana, Minnie, Damas antigas…houve muitos fatos de carnaval cá por casa, entre mim e o meu irmão! Era a minha avó costureira que os fazia, com todo o cuidado e dedicação. De tal maneira que passavam entre amigos próximos e família, ao longo das gerações. Agora é o meu filhote a usufruir dos fatos que eram do tio 🙂 Atualmente os fatos baratos não têm mesmo ponta por onde se lhe pegue. Como costumo dizer, são só tecidos reles “estrapicalhados”! Beijinho!

    1. Vanessa! Precisamente, são mesmo esses os meus sentimentos. Sinto que quando tiver filhos ainda vou vasculhar nas peças feitas à mão pela minha mãe (mesmo que já estejam um pouco coçadas, porque há sempre maneira de lhes dar um ar novo e recuperado)! Um beijinho e obrigada por seguires o blog!

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