Books of the Year: 2016

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Como já falei neste post a passagem de ano não é um momento de grandes mudanças para mim. Por essa razão resolvi assinalá-lo de forma diferente com um post sobre alguns livros que li durante o ano de 2016.

 

Terminei 2015 a ler “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen o que me levou a iniciar 2016 com “Emma”. Foi muito interessante encontrar diferenças tão profundas entre o que já conhecia da escrita masculina da época e o caracter detalhado, profundamente sensorial de quem vive intensamente as mais pequenas coisas, da escrita feminina que despertava naqueles dias.

 

“O Jardineiro do Rei Sol” de Erik Orsenna foi outra excelente surpresa. Não é propriamente um romance mas conta a história do Jardineiro do Rei Luís XIV que foi responsável pelos famosos Jardins de Versalhes. Este é um livro particularmente interessante para quem conhece a cidade de Paris e o Palácio de Versalhes.

 

“Irmão Alemão” de Chico Buarque saiu completamente da onda dos livros de época que me tinha disposto a ler. Não terá alcançado para mim a ternura e método de “Leite Derramado” mas é um livro que vive entre a fantasia e a obsessão do personagem principal que procura um possível irmão em todos os sinais e detalhes do dia-a-dia.

 

“A Cidade e as Serras” de Eça de Queiroz consta entre os livros mais bonitos que já li. A simplicidade da história choca de forma irónica com a complexidade do enredo que ilustra o virtuosismo da época mas que permanece, ao mesmo tempo, extremamente actual. E este choque só é possível à luz da visão e perspicácia de Eça. “A Cidade e as Serras”, de caracter extremamente biográfico, eleva o estilo do autorcomo nenhuma outra. As descrições são profundas em significado e sensações e aparecem sabiamente acompanhadas de um humor refinado como só Eça soube usar.

 

“A queda de um anjo” de Camilo Castelo Branco contrasta grandemente com a sensibilidade de “Amor de Perdição”. A escrita de Camilo é peculiar e rebuscada e o engraçado em “A queda de um anjo” é a necessidade propositada de acentuar esta característica, o que torna a leitura mais complexa mas extremamente cómica!

 

“O mistério da estrada de Sintra” é considerado o primeiro policial português e surge de uma colaboração da dupla inseparável de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. De leitura fácil, simplesmente ainda não bebe da maturidade que Eça adquire mais tarde, mas evidencia a profunda cumplicidade entre os autores.

 

“A Relíquia” de Eça de Queiroz é uma obra de extremamente cómica e aproxima-se dos Maias no que toca a aventuras e desventuras. Para mim foi sobretudo marcante pela transformação iminente da personagem principal, algo comum a “A Cidade e as Serras”.

 

Ainda na onda queirosiana, o livro de “Contos” de Eça de Queiroz, aparece-me como uma espécie de conjunto de ensaios, alguns notoriamente trabalhados, outros numa espécie de apontamento. Neste tempo de natal, recomendo especialmente “Um Suave Milagre” embora precise destacar “Adão e Eva no paraíso” que evidencia o caracter satírico da escrita de Eça de Queirós.
Apesar de não ser uma ávida consumidora de poesia, cedi-lhe finalmente com a”Antologia de poemas de amor”. Os poemas de amor são difíceis porque há sempre quem os tenha trabalhado inexplicavelmente bem. Contudo Pessoa não desaponta com palavras acessíveis e histórias possíveis.

 

“Uma Família Inglesa” foi o meu primeiro livro de Júlio Dinis que estupidamente evitei durante anos sem uma justificação razoável. A sua escrita é de uma facilidade incrível! Esta obra abriu-me muitos sorrisos pelo retrato tão fidedigno da cidade do Porto durante o no século XIX.

 

“The Creative Habit” da coreógrafa Twyla Tharp é um livro prático, repleto de estratégias para o desenvolvimento da criatividade e, sob o contexto das temáticas deste blog, é uma referência. O hábito pode parecer uma contradição à liberdade artística mas criar vem, de facto da criação de hábitos e, invariavelmente, surge do espaço criado pelas rotinas.

 

“Esplanada à beira mar” de Vergílio Ferreira, é um conto intenso, sobre o mais difícil dos sentimentos: a impotência. Com tantas obras podia ter-me passado completamente despercebido mas, ou pelo contexto da leitura ou pelo prazer imediato, este conto de três ou quatro páginas encheu-me breve e intensamente.
“O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry é lido praticamente todos os anos. Desta vez foi lido a dois: uma frase eu, outra tu, porque é um livro para a vida e um livro para ser partilhado. Já perdi a conta às vezes que o li mas as peripécias parecem-me sempre diferentes porque me vêm crescer!

 

“Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria Rilke foi a revelação. Quando li “The Creative Habit” pensei que tinha ficado com as ferramentas necessárias para criar com qualidade. Mas a verdade é que ainda não tinha sido confrontada com a pergunta mais profunda sobre o acto de criar e fazer arte. Com tantas sinopses e críticas por aí, o mais belo livro sobre o assunto quase me passou ao lado como um diamante em bruto. “Cartas a um jovem poeta” é um livro marcante. Não agradará a todos nem preencherá todas as almas. Mas aqueles que toca, toca profundamente e é capaz de mudar consciências, atitudes, comportamentos. Um guia para abrir todos os dias, como um livro de orações que parece estar a falar connosco.

 

Por fim, e ainda na minha cabeceira “O Consul Desobediente” de Sónia Louro foi base para o filme português sobre Aristides de Sousa Mendes. Não tenho, para já, muito para apontar acerca da escrita, mas elevo o testemunho sobre alguém que salvou tantos milhares fazendo bom uso do poder que contrasta com as nossas vivências da actualidade: um presente mais livre, sim, mas mais indiferente.

 

Estes foram alguns livros que marcaram este ano e podem ser um incentivo de leitura para o vosso 2017. Já tenho uma lista para este novo ano que espero que seja igualmente inspiradora! Queria muito poder partilha-la convosco de hoje a um ano por isso, muito obrigada por passarem por cá e por seguirem o blog!

 

As I already said in this post the New Year is not a time of great changes for me. For this reason I decided to write a New’s Year post about some books I read this year! Sadly, some books can only be found in portuguese so I will only focus on the ones you can find in english.

 

I finished 2015 while reading “Pride and Prejudice” by Jane Austen which led me to start 2016 with “Emma”. It was very interesting to find such profound differences between what I already knew about the masculine writing of that time and the detailed, deeply sensorial, intensely lived, feminine writing that was raising in those days.

 

Erik Orsenna’s “Gardener to the Sun King” was another excellent surprise. It is not really a novel but tells the story of king Louis the XIV’s Gardener who was responsible for the famous Gardens of Versailles. This is a particularly interesting book for those who know the city of Paris and the Palace of Versailles.

 

“The City and the Mountains” by Eça de Queiroz, a famous Portuguese author from the 19th century, is among the most beautiful books I have ever read. The simplicity of the story contrasts ironicly with the complexity of the pictures that illustrate the virtuosity of the era but which remains, at the same time, extremely updated. And this contrast is only possible by Eça’s vision and insight. “The City and the Mountains” has an extreme biographical character and elevates the style of the author like no other book. The descriptions are deep in meaning and sensations and are wisely matched with Eça’s refined humor.

 

“The Fall of an Angel” by Camilo Castelo Branco contrasts greatly with the sensitivity of his “Doomed Love”. Camilo’s writing is quirky and fancy and the funny thing about “The Fall of an Angel” is the need to accentuate this feature, which makes the reading a little more complex but extremely comical!

 

“The Mystery of the Sintra Road” is considered the first portuguese crime novel and comes from a collaboration of the inseparable duo of Eça de Queiroz and Ramalho Ortigão. It is an easy reading book… it simply does not have the maturity that Eça acquires later in his life, but evidences the deep complicity between the two authors.

 

“The Relic” by Eça de Queiroz is an extremely comic book and has some things in common with “The Maias” when it comes to adventures and misadventures. However, for me, the book is especially interesting because of the accentuated transformation of the main character during the novel, something common to “The City and the Mountains”.

 

“An English Family” was my first book by the portuguese writer Júlio Dinis (19th century), which I stupidly avoided for years without a reasonable explanation! Júlio’s books are incredibly easy to read! This book has given me many smiles because of the rich portrait of the city of Porto in the 19th century’s, where and when the story happens.

 

“The Creative Habit” by the choreographer Twyla Tharp is a practical book about creativity and, regarding the themes I have explored on this blog, is a number one reference. It may seem a contradiction to the artistic freedom, but being creative is, in fact, a habit that, as all habits, invariably arises from the space created by routines.

 

“A Terrace by the Sea” by the portuguese writer Vergílio Ferreira (20th century), is an intense tale about the most difficult of all feelings: powerlessness. With so many books around me I might have missed it’s depth, but, because of the context, the moment or the immediate pleasure of this tale, the story filled me briefly and intensely.

 

I read “The Little Prince” by Antoine de Saint-Exupéry almost every year. This time it was read between me and my husband: I read a paragraph, you read another, because it is a book for life and a book to be shared. Sometimes I read it but the stories always seem different because they see me growing up!

 

“Letters to a Young Poet” by Rainer Maria Rilke was the revelation. When I read “The Creative Habit” I thought I had all the tools to be an excellent creative person. But I wasn’t yet confronted with the most important question about creating and making art. With so many synopses and reviews out there, the most beautiful book on the subject almost passed me by like a lost diamond. “Letters to a Young Poet” is an extraordinary book! It will not please everyone or fill all souls. But those who are touched by it are deeply affected. I might say it is able to change awareness, attitude and even behaviour about being an artist and create art. This is not just a book, is also a guide to open everyday as a praying book that seems to be talking to us.

 

These were some books that defined my year and can be a reading incentive for your in 2017. I already have a list for this new year that I hope is equally inspiring! I hope to share it with you one year from now! So thanks for stopping by and for following me!

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