Nativity

(scroll for the English version)

 

Desde há alguns anos que sinto um grande desajuste em relação ao tempo de Natal. O que mais me incomoda é o ruído, um grande, perturbador ruído de fundo. Estamos todos cansados de ouvir os contras do consumismo no Natal mas continuamos a fazê-lo como se fosse uma espécie de recaída…
Portugal é um país ainda maioritariamente católico e o tempo de Natal continua fortemente ligado ao nascimento de Cristo. Não tem de ser assim, é certo: há uma série de religiões por aí que não gozam de tanta evidência. Mas à parte eventuais coincidências que creio não existirem, o tempo do Natal realiza-se à volta so solstício de Inverno e, mesmo antes das mais fortes religiões sequer existirem, este era um momento festejado, lembrado, como um fenómeno misterioso com o qual o homem sempre se debateu. Por isso, não é de admirar que muitas religiões façam coincidir esta época com solenidades mais ou menos importantes. É por volta do dia do solstício que os católicos romanos, ortodoxos, os anglicanos e alguns protestantes celebram o nascimento de Cristo, os Judeus o hanukkah, o os Hindus a festa das luzes, os Umbandas agradecem a Oxalá as forças da natureza, os pagãos Wiccas o Yule, os Kemetistas (do antigo egipto) o retorno da Deusa Hathor a seu pai Rá, os neopagãos o Deus Saturno, os Zoroastristas (Pérsia) o aniversário da morte de Zaratustra… Enfim, gostaria de incluir aqui todas as religiões e ia perceber que, de forma mais ou menos importante, o solstício de inverno está por trás de muitas festas e que a sua comemoração nas religiões mais antigas deu origem às festas que hoje comemoramos em todo o mundo. A época não é única coisa comum: em todas as religiões há um investimento claro na criação de comunidade, na ligação ao outro, na reflexão interior e vivência dos mistérios do mundo e do homem, que ainda são maiores do que toda a sua sabedoria.

 

Há todos estes “natais”, há a simples vontade de estar em família que é mais do que legítima para festejar, e depois há o consumo, que não é uma festa de ninguém, não comemora coisa nenhuma mas tenta todos os dias justificar-se por trás de um tempo de união fraternal que na verdade, é tudo o que o consumismo não festeja. O consumismo exclui, discrimina e não é preciso grandes explicações para percebermos isso. E mais do que tudo há uma espécie de revolta contra as religiões e a impressão de conquista de uma liberdade em relação a elas que na verdade não tem base, não tem significado, não tem identidade. Ninguém sabe exactamente o que está a festejar nem porquê tanto alarido com presentes e árvores de Natal.

 

Por isso, a minha mensagem de natal neste primeiro ano de blog é para aqueles que pretendem de facto preencher-se com alguma reflexão, seja ela em qualquer língua ou religião, porque esse espírito é comum a todas, é comum ao homem. Só saberei fazê-lo bem influenciada pela minha religião, o que é perfeitamente natural… É a “língua” que aprendi a falar para exprimir as coisas mais profundas e sinceras. Mas queria que esta mensagem fosse interpretada por todos, não como uma mensagem religiosa, mas antes como a melhor, a mais honesta e lúcida forma que, na minha humildade e ignorância, tenho de vos saudar a todos com os votos de paz.

 

Since a few years ago that I feel a big mismatch over Christmas time. What bothers me most is the noise, a big, disturbing background noise. And we are all tired of hearing the cons of consumerism at Christmas but we continue to do it as if it were some kind of relapse…
Portugal is mainly a Catholic country, and Christmas time remains strongly linked to the birth of Christ. It does not have to be this way, it’s true: there are a lot of religions out there that do not benefit of this evidence. But apart from any coincidences that I do not think exist, Christmas time coincides with the winter solstice, and even before the strongest religions even existed, this was a celebrated phenomenon, remembered as a mysterious phenomenon with which man always struggled a bit. That is why many religions have more or less important solemnities around the winter solstice. It is around the day of the solstice that Roman Catholics, Orthodox, Anglicans and some Protestants celebrate the birth of Christ, the Jews celebrate the Hanukkah, the Hindus celebrate the lights festival, the Umbandas thank the Oxalá the strength of nature, the Wiccas celebrate the Yule, the Kemetistas (from ancient Egypt) celebrate the return of the Goddess Hathor to his father Ra, the Neopagans celebrate the Saturn God, the Zoroastrians (Persia) celebrate the anniversary of the death of Zarathustra … Anyway, I would like to include here all religions! What I want to say is that, more or less importantly, the winter solstice is behind many festivals and that its celebration in the older religions gave rise to the “Christmas” celebrations that we live today, all over the world. The time is not the only common thing: in all religions there is a clear investment in community, connection, inner reflection and experience of the world’s and man’s mysteries, which are still greater than all the wisdom.

 

There are all these “christmas”, there is also the simple desire to be with your family and that is more than enough to celebrate, and then there is the consumerism, which is not a party of anyone, celebrates nothing but tries every day to be justified behind a time of brotherly union that in fact, is all that the consumerism does not celebrate. Consumerism excludes, discriminates. It does not take big explanations to realize this. And more than anything else there is a kind of rebbelion against religions, especially and of course the Catholic religion because it is the greatest among those present in Western Europe, against this spirit of internalization that religions defend and the impression of conquest of a kind of “freedom” that in fact has no basis, no meaning, no identity. No one knows exactly what to celebrate or why is there this chaos around the gifts and Christmas trees.

 

That is why my Christmas message in this first year of blogging is for those who wish to fill themselves with some reflection despite their language or religion, because that spirit is common to all, it is common to the Human being. I will only do it well through a message influenced by my own religion, which is perfectly natural… It is the “language” I learned best, the one I am fluent on to better express the deepest and most sincere things. But I wanted this message to be interpreted by all, not as a religious message, but as the best, the most honest, the most clear and lucid form I have, in my humility and ignorance, to greet you all with Peace.

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